metropoles.com

Mudança de clima na aviação comercial (por Felipe Sampaio)

A cena foi assustadora. O passageiro foi arrancado do seu assento em pleno voo

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Michael Melo/Metrópoles
Avião - Metrópoles
1 de 1 Avião - Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A cena foi assustadora. O passageiro foi arrancado do seu assento em pleno voo e literalmente enfiado no bagageiro superior do Boeing 787, durante uma violenta turbulência atmosférica. O voo internacional da Air Europa havia decolado da Espanha para o Uruguai. Ao todo, 30 pessoas foram socorridas até com fratura de fêmur e suspeita de traumatismo craniano após o pouso de emergência em Natal – RN.

Poucas semanas antes, um passageiro havia morrido e dezenas ficado feridos no Boeing 777 da Singapore Airlines, quando sobrevoava Myamar. O incidente também foi causado pelo impacto de uma turbulência. O que chama a atenção nos dois casos é que não se tratava de aviões pequenos e nem de fortes tempestades. Os Boeings atingidos são de modelos modernos, de grande porte, em voos internacionais e as turbulências ocorreram com tempo bom, em “céu de brigadeiro”.

A situação vem se agravando nos últimos anos, segundo um estudo realizado pela Reading University – publicado pela revista Advances in Atmospheric Sciences. O crescimento das emissões de dióxido de carbono está tornando a atmosfera muito instável e suscetível à ocorrência desses turbilhões de ar que surpreendem os pilotos e as torres de controle com violência cada vez maior.

Não e à toa que as tripulações têm sido rigorosas no aviso de “manter os cintos de segurança afivelados durante todo o voo”, bem como na suspensão imediata do serviço de bordo ao menor sinal de trepidação. São cada vez mais frequentes os casos de passageiros, tripulantes, bagagens e carrinhos arremessados com força contra o teto ou as paredes dos aviões ao atravessarem áreas de turbulência.

Esses extremos climáticos seriam mais fáceis de detectar pelo radar, satélite, ou mesmo visualmente, se só acontecessem durante tempestades. Contudo, as aeronaves têm sido atingidas justamente com céu limpo, sem nuvens. Sãos as chamadas “turbulências severas de ar claro”, difíceis de prever, conforme reportagem do site UOL.

É evidente que os aviões em operação atualmente (assim como os que estão na prancheta de projeto) não estarão preparados para o aumento da intensidade e da frequência de turbulências severas nas próximas décadas, segundo pesquisa publicada pela Geopysical Research Letters, divulgada pelo portal de notícias Terra. A partir de simulações em computador, o pesquisador Paul Williams da Reading University concluiu que a mudança climática provocará um aumento de 150% na ocorrência de “turbulências severas de ar claro” já nos próximos anos.

Por sua vez, os órgãos federais de transportes aéreos dos EUA registraram que na última década as turbulências causaram quase 40% dos acidentes deixando cerca de 150 passageiros com ferimentos graves no País.

O tema das turbulências que ameaçam as viagens aéreas é apenas mais um exemplo dos impactos das mudanças climáticas, que demonstram na prática o seu caráter físico caótico e comprovam a urgência de se levar a sério os investimentos e as tecnologias necessários para a adaptação às transformações climáticas, que seguem desgovernadas mundo afora.

 

Felipe Sampaio: cofundador do Centro Soberania e Clima; chefiou a assessoria especial do ministro da Defesa; dirigiu o sistema de estatísticas no ministério da Justiça; foi secretário executivo de segurança urbana do Recife; membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública; é assessor no ministério do Empreendedorismo.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?