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Missão cumprida: o Exército no governo (por João Bosco Rabello)

A confiança civil nas Forças Armadas é menor desde a decisão do comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira

atualizado

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1 de 1 Comandantes - Foto: Fotos Igor Estrela/Metrópoles

O general Paulo Sérgio Nogueira deve ter seus motivos para decidir poupar o general Eduardo Pazuello de qualquer das sanções previstas no Regulamento Disciplinar do Exército (RDE) para quem o transgredir. Mas depois dela, o Exército é menos confiável.

A defesa de Pazuello certamente não pode ser o respaldo do comandante do Exército, pois nega natureza política ao ato do presidente da República do qual participou o general perdoado.

O Exército aceitou uma explicação do general-réu que faz letra morta a máxima consagrada do político americano James Schlesinger, segundo a qual todos têm direito à própria opinião, mas não aos próprios fatos.

Não só o ato que levou Pazuello ao palanque era político, como também é inteiramente política a decisão de seu comandante. Pode ser um recuo tático decidido após uma avaliação da dimensão da crise em caso de uma punição vir a ser revogada pelo presidente da República.

Pode também resultar de uma relação custo/benefício com base na premissa de que punir o general enfraqueceria o presidente da República e, por extensão, fortaleceria o adversário inesperado, Lula da Silva, ameaçando a reeleição de Bolsonaro e o retorno da esquerda ao poder.

Pode ser ainda a inconveniência de arriscar o banquete dos contracheques, engordados pelos mais de três mil cargos militares no governo. Em qualquer hipótese – e em todas elas – Nogueira pode dizer “Missão Cumprida, em nome do Exército.

Com uma decisão política, o comandante do Exército nega ato político ao subordinado e negligencia aspectos sensíveis, como a mensagem de sublevação enviada às tropas não só das Forças Armadas, mas também das corporações militares estaduais que já dão sinais de insubordinação.

O preço político é caro especialmente para as altas patentes que sonharam reescrever a história de 64, cuja versão prevalecente consideram inverídica. A decisão de Paulo Sérgio devolve a desconfiança com relação ao compromisso constitucional dos militares reafirmado inúmeras vezes pelos seus antecessores.

Ocorresse em clima de absoluta normalidade, a exceção feita a Pazuello seria errada e condenável, por ser exceção. Mas antecedida das bravatas presidenciais como a de afirmar e reafirmar que o Exército lhe pertence e de empossar o general infrator em cargo estratégico enquanto seu caso era avaliado, soa como uma submissão envergonhada.

Com “seu” Exército (já se pode tirar as aspas do pronome possessivo), qualquer ação ou atitude do presidente da República, daqui para a frente, constitucional ou não, sóbria ou delirante, justa ou injusta, terá sempre o tom verde-oliva da ameaça implícita.

Depois de uma fala em rede nacional de televisão em que disse jogar “dentro das quatro linhas da Constituição”, Bolsonaro obtém do Exército aval para as Forças Armadas trafegarem na contramão de suas normas internas e da própria Carta Maior.

A confiança civil nas Forças Armadas é menor desde a decisão do comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira. O Exército se curva pela segunda vez a Bolsonaro na ilusão de que é melhor não comprar a provocação e reproduz em Pazuello hoje o Bolsonaro de ontem.

E ainda cabe uma desconfiança: especialistas em contrainformação, os militares que se manifestaram pela punição a Pazuello na mídia poderiam estar apenas emprestando credibilidade a um enredo que precisa sugerir uma análise séria e detida do caso.

Que pode sequer ter havido. Retardar o anúncio de uma decisão de primeira hora pode fazer parte do script.

 

João Bosco Rabello escreve no Capital Político. Ele é jornalista há 40 anos, iniciou sua carreira no extinto Diário de Notícias (RJ), em 1974. Escreve no Capital Político. 

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