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Meus músculos: olímpico aos cem anos (por Roberto Caminha Filho)

Minto aos meus amigos, dizendo que rasgo três camisas por treino, quando os meus bíceps crescem e obrigam os tríceps a imitá-los

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SportLife/ Reprodução
Homem fazendo musculação no braço
1 de 1 Homem fazendo musculação no braço - Foto: SportLife/ Reprodução

Aos 72 anos, após uma bariátrica e um passeio no Céu, com COVID-19, resolvi virar macho e enfrentar a academia do meu clube. Só no Naça alguém poderá ser eterno. Aos 80, e além, cultivar uma musculatura forte é essencial para uma vida ativa, saudável e, por que não, deliciosamente feliz. Uma robusta base muscular não só contribui para manter o corpo em movimento, como também previne doenças e protege a saúde mental. Esse é o segredo dos “olímpicos aos cem anos”: pessoas que, com o passar do tempo, descobriram que a força muscular é um verdadeiro guaraná de vitalidade.

Pesquisas em geriatria e medicina esportiva apontam que, após os 30 anos, há uma perda natural de massa muscular, maldade conhecida como sarcopenia. Isso pode resultar em uma perda média de 3% a 5% da massa muscular a cada década, segundo o American College of Sports Medicine. Com o avanço da nossa querida idade, essa perda aumenta, resultando em mobilidade reduzida e maior risco de quedas, fraturas e complicações de saúde. Portanto, manter os músculos fortes, como os do Hulk, é uma das formas mais eficazes de preservar a independência e o distanciamento das lindas cuidadoras.

É cada vez mais claro que a saúde física e a mental andam de mãos dadas. As muletas e as cadeiras de rodas…também. E quando falamos de saúde mental, os músculos das pernas, em particular, desempenham um papel importante. Pesquisas realizadas pela University College London (UCL) sugerem que a força das pernas tem impacto direto na saúde do cérebro. Em um estudo publicado na revista Gerontology, cientistas observaram que pessoas com maior força nas pernas apresentam menores taxas de declínio do entendimento. A atividade física, ao fortalecer o sistema cardiovascular e promover a circulação sanguínea para o cérebro, auxilia  em tudo, ou seja, na formação de novas conexões pelos neurônios, essenciais para o funcionamento da memória e da atenção. E não se esqueçam dos glúteos, antes trabalhados só por Bornays & Bolotas, hoje a coisa mudou.

O neurocientista John Ratey, professor de psiquiatria da Harvard Medical School, reforça que “o exercício físico é como um fertilizante para o cérebro”.  Pô, Joãozinho! Adubo para o cérebro? Ao fortalecer as pernas, o corpo produz proteínas que ajudam a proteger as células nervosas e até estimulam o crescimento de novas células. Isso é crucial em uma época em que o germânico Alzheimer e outras formas de demência nos preocupam cada vez mais. Meu pai sempre repetia: do alemão e do caranguejo ninguém da nossa família escapou. Nem ele.

Estudos recentes mostram que o treinamento de força pode ajudar a prevenir e até mesmo reverter condições crônicas associadas ao envelhecimento, como diabetes tipo 2, hipertensão e artrite. Ao ganhar mais músculos, o corpo melhora sua capacidade de metabolizar glicose, essa ótima inimiga, reduzindo os níveis de açúcar no sangue e diminuindo o risco de diabetes, como explica o Dr. Mark Peterson, pesquisador em medicina esportiva da Universidade de Michigan que mostrou idosos que praticam musculação, regularmente, têm 46% menos probabilidade de morrer por qualquer causa em comparação com aqueles que não praticam. Isso é de uma sordidez total aos preguiçosos como eu.

No entanto, o segredo não está apenas nos treinos de alta intensidade. Movimentos simples como caminhar, levantar-se de uma cadeira sem apoio e subir escadas são igualmente importantes para fortalecer as pernas e manter a mobilidade. “O importante é a consistência”, explica Peterson. “Pequenos exercícios diários são suficientes para estimular o corpo e prevenir a perda muscular”. Tente ultrapassar os 90 dias de exercícios com pesos e você perderá o medo e apaixonar-se-á pelos ferros. É exatamente assim que estou me sentindo. Minto, diariamente, aos meus amigos, que rasgo três camisas por treino, quando os meus bíceps crescem e obrigam os tríceps a imitá-los. É uma explosão de vida e beleza.

A ideia de que músculos mais fortes podem ajudar a curar doenças é respaldada por cientistas que estudam a resposta imunológica. Em artigo publicado na revista Nature, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) demonstraram que a prática de atividades físicas regulares tem um impacto positivo sobre o sistema imunológico. Durante o exercício, o corpo libera hormônios que reduzem a inflamação e podem ser eficazes no tratamento de doenças autoimunes e cardiovasculares.

Além disso, em pessoas que sofrem de dores crônicas, como na artrite, o fortalecimento muscular tem um efeito protetor sobre as articulações. Músculos mais fortes absorvem melhor os impactos, diminuindo a pressão sobre os ossos e cartilagens e, consequentemente, reduzindo a dor. O Dr. Stuart Phillips, da Universidade McMaster, no Canadá, afirma que “o exercício físico é o remédio mais barato e eficaz para muitas condições crônicas que afetam os idosos”. É nisso que quero acreditar.

Cuidar da musculatura é também um convite para a diversão. Uma rotina de exercícios pode ser um doce deleite, de novas amizades e de estímulo para uma vida cheia de risadas e boas histórias. Muitos “Titios” que se dedicam ao fortalecimento muscular relatam um ganho de autoconfiança e uma sensação renovada de liberdade, ao sentirem que ainda são capazes de dançar, viajar e participar de atividades ao ar livre. Esta fase merece cuidados redobrados. As moças que estão ao seu lado, possuem bíceps e tríceps que viram o seu pescoço em trezentos e sessenta graus com um tapa.

Em resumo, manter os músculos fortes após os 72 anos é uma escolha sábia, que preserva o corpo, protege a mente e traz a leveza que todos buscamos na vida. Afinal, nada mais olímpico do que viver cada dia com mais uma medalha de ouro, dessas que o envelhecido Brasil, se afasta a cada ciclo olímpico.

 

Roberto Caminha Filho, economista, depois de 72 anos, entrou, com vontade, em uma academia. Imite-me, se for capaz!

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