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Meu amigo bolsonarista (por Mirian Guaraciaba)

Nem todo o ódio ao PT pode decifrar tal fidelidade ao sujeito que afundou o Brasil.

atualizado

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Foto: Fábio Vieira/Metrópoles
protesto bolsonarista primeiro de maio (10)
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Lá se vão três anos. Ele, irredutível. Nem todo o ódio ao PT pode decifrar tal fidelidade ao sujeito que afundou o Brasil. Nesse dezembro, quase se foi minha esperança de que finalmente enxergasse o monstro criado para combater Lula.

Escabreado, já faz críticas ao governo. Pontuais. Mas … Ufa!

Não refutou condenação pública de Bolsonaro – aliados e oposição apontaram o desprezo do sujeito pelo povo baiano, nesse fim-de-ano. Enquanto dezenas de pessoas morriam, 500 mil pessoas perdiam suas casas, 72 cidades colocadas sob estado de emergência, o embusteiro andava de jetski pelas águas de Santa Catarina.

Fatos inquestionáveis. A imagem de Bolsonaro desfrutando o balneário, se esbaldando no parque de diversões Beto Carrero, foi um soco no estômago. Não só dos baianos. Dos brasileiros que se mobilizaram, ou não, para ajudar a Bahia.

Nesses três anos, meu amigo e eu tivemos embates civilizados. Não foi fácil. Como não rebater com sonoro palavrão qualquer defesa do escroque? Ou ataques a Lula? Seguramos a onda. A convivência é longa, décadas de amizade, daquelas que se conta nos dedos das mãos.

Medida do possível, nem ele nem eu deixamos que a política inquietasse nossa relação. A receita não é simples. Não segui-lo nas redes sociais, e jamais misturar Bolsonaro no grupo restrito da família – ele incluído, tal intimidade. Cinco lulistas declarados, dois bolsonaristas, e dois, terceira via, a que vier. Nenhum Moro, nenhum Dória, o que já é um avanço. Contra o inominável, votarão em Lula.

Meu amigo-irmão e eu resistimos ao ódio disseminado em 2018, quando Bolsonaro decretou guerra ao País. Resistimos a sua perversidade. E não será necessário apontar seus equívocos – do meu amigo. O tempo certamente mostrará que ele esteve do lado errado da história.

Estarão vivas na nossa memória – e nos livros que contarão a crônica mais feroz dos anos recentes – a crueldade e a leviandade de Bolsonaro contra direitos humanos, negros, gays, meio-ambiente, educação, saúde. Contra a democracia.

Estará para sempre na sua conta a morte de milhares de brasileiros, vítimas de doença evitável pela vacina que desprezou, adiou, tergiversou.

Meu amigo não é negacionista, tomou as três doses da vacina, não acha que a Covid é uma gripezinha. Opiniões coincidentes. Temos ojeriza a Moro e Doria. Por motivos diferentes, claro. Aversão a Olavo de Carvalho e Waldemar Costa Neto.

Nesse momento, meu amigo acompanha com certa preocupação o estado de saúde do temerário, internado nessa segunda, de novo, em São Paulo. Meu desassossego é diferente: até quando o embuste vai usar a suspeita facada na busca desesperada – inútil, talvez –  dos votos que perdeu?

Por mais que se esforce, está  cada vez mais claro que a derrota, em outubro, poderá ser retumbante. Quiçá no primeiro turno. Não se iluda, Capitão. Sua maldade terá repercussão nas urnas. Não terá facada este ano. Nem Moro para carimbar sua candidatura. Seu tempo pode estar acabando.

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