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Memórias de junho: CPMI do 8/1 e morte de Brizola (por Vitor Hugo Soares)

Brizola, dirigindo uma kombi, convidou-me para ir com ele

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1 de 1 Imagem colorida de Leonel Brizola - Metrópoles - Foto: Reprodução/Câmara

Acompanho o círculo de fogo e pirotecnia política e ideológica que se desenha no país, com a da CPMI do 8/1, para apurar os ataques a representações institucionais dos três poderes da República, no vandálico começo deste ano de 2023, em Brasília. Faço isso de olho, também, no calendário, que lembra a morte de Leonel Brizola, no dia 21 de junho de 2004, notícia que me bateu em cheio, na Redação de A Tarde, onde então eu era editor de Opinião . Estava em pleno “trabalho de parto” de mais uma edição e, mesmo tomado pela emoção – e algumas doses de licor de jenipapo, por conta dos festejos de São João – fiz – no calor da hora – o texto sobre a triste noite para a edição do dia seguinte.

Minha surpresa ficava por conta de ter acreditado, piamente, na palavra do incrível líder político – governador duas vezes do Rio de Janeiro, e uma do Rio Grande do Sul –, ao garantir, em seu desterro no Uruguai: “Baiano, tu sabes que um Brizola vive muito e raramente morre antes dos 90. Não raro, vão aos 100”. ( Leonel de Moura Brizola se foi aos 81 anos, em um hospital do Rio, por problemas pulmonares.

O fato e seu impacto me fez pensar que devia ter checado melhor o que ouvi, pessoalmente, na sala da fazenda, iluminada a lampião à gás, no povoado de Carmen, província uruguaia de Durazno. Quando golpistas e perversos chefes militares e civis da sanguinária Operação Condor já controlavam o até então livre e democrático governo do país vizinho.

Na visita, com Margarida, (também ex- jornalista de A Tarde), à estância , onde vivia Brizola e sua brava e solidária mulher, D. Neusa Goulart, até a sua expulsão, para nova etapa de exílio, nos Estados Unidos sob governo do democrata Jimmy Carter – num encontro possível graças à intermediação do amigo comum, jornalista alagoano Paulo Cavalcante Valente e ajuda do culto e generoso coronel Dagoberto Rodrigues, ex-diretor dos Correios e Telégrafos (espécie de ministério das Comunicações do Governo João Goulart) também exilados da ditadura brasileira.

Então eu trabalhava no Jornal do Brasil, tocando a redação da sucursal do JB na Bahia. É de Margarida a foto de primeira página do Jornal do Brasil, (da polêmica estância, na época, ilustrando a chamada para a reportagem sobre a expulsão do líder brasileiro. O aprendizado mais emblemático para mim, veio após o almoço: inhoque preparado pela ex- primeira dama do Rio Grande do Sul.

Brizola, dirigindo uma kombi, convidou-me para ir com ele à sede de Durazno, para a entrega do leite produzido em sua fazenda. No caminho, o ex-governador parou e pediu: “baiano, por favor, abra aquela porteira para a gente poder seguir. Era uma tranca de argolas, típica dos pampas, que se abre com facilidade. Mas um desafio e tanto para o jornalista. Mexi para cá e para lá e nada, enquanto Brizola observava. Tentei “una y otra vez”, como dizem os uruguaios, sem êxito. Vi então Brizola sair do carro, se aproximar, tomar as argolas de minhas mãos e com simples movimento liberar a tranca. Em seguida, a lição marcante . “Vejo contigo, meu caro amigo baiano, depois de tanto tempo fora, que os intelectuais no Brasil continuam os mesmos: querem fazer uma revolução, mas não sabem abrir uma porteira”. Mais verdadeiro e atual ainda, impossível. Grande Brizola!!! Saudades!!!

 

Vitor Hugo Soares é jornalista. Editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail : vitors.h@uol.com.br

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