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Marçal fez escola (por Hubert Alquéres)

A “marcialização”  do segundo turno da eleição em São Paulo

atualizado

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Montagem com fotos de Antonio Chahestian/Divulgação Record
Montagem mostra Ricardo Nunes e Guilherme Boulos em debate - Metrópoles
1 de 1 Montagem mostra Ricardo Nunes e Guilherme Boulos em debate - Metrópoles - Foto: Montagem com fotos de Antonio Chahestian/Divulgação Record

Com Pablo Marçal fora da disputa, imaginava-se um segundo turno mais civilizado em São Paulo, com os dois contendores – Ricardo Nunes e Guilherme Boulos –  travando um debate em torno das questões reais de interesse dos paulistanos.  As esperanças se justificavam porque no primeiro turno, sobraram cadeiradas, socos e muita baixaria em um jogo de vale-tudo.  Sem Marçal, tudo seria diferente.

A propaganda de Nunes e Boulos na TV já indicavam que não seria bem assim, no segundo turno, com os dois interessados apenas em aumentar a rejeição do seu adversário. Se havia dúvidas, o debate da TV Record do último sábado deixou claro que o estilo Marçal de fazer política se instalou em São Paulo, independentemente dele estar ou não na disputa. Não houve ataques físicos, mas a agressividade, o xingatório pessoal, a mentira, o descompromisso com os eleitores e com a cidade continuam como dantes.

Essas questões em nada ajudam a pessoas a definir o seu voto. Ao contrário, contribuem para ampliar o descrédito na política, aprofundando a sua degradação. Conviria a Nunes e Boulos prestarem atenção à pesquisa  qualitativa do Instituto Travessia, realizada com um grupo de eleitores quando o debate estava acontecendo. O sentimento comum entre eleitores de Nunes, de Boulos e indecisos foi de repulsa a ataques pessoais e a  ausência de propostas dos dois candidatos capazes de melhorar a vida dos paulistanos.

O debate não acrescentou nada, não provocou mudança no posicionamento dos eleitores, como evidenciou a pesquisa do Travessia. Quem ia votar em Nunes manteve sua opção, o mesmo acontecendo com  eleitores de Boulos. E quem estava indeciso, continuou do mesmo jeito.

A “marcialização”  do segundo turno teve início logo após a abertura das urnas da primeira rodada. Intensificou-se com a divulgação das primeiras pesquisas, nas quais Boulos apareceu em grande desvantagem e com alta taxa de rejeição. O candidato do campo da esquerda trocou de estratégia. Deixou de lado o discurso na linha paz e amor para adotar uma postura agressiva. Em vez de focar nas propostas, priorizou o discurso belicoso, numa guinada da imagem que vinha construindo no primeiro turno. Há dúvidas sobre o acerto dessa sua nova estratégia, pois ela  pode aumentar  a sua rejeição, que já é mastodôntica. Mas ele aposta em uma disputa de rejeições, acreditando ser a sua única chance de vitória o aumento exponencial da rejeição de Ricardo Nunes, a ponto dos eleitores, sobretudo os que votaram em Marçal, passarem para o seu lado.

Um indicativo de que o cavalo de pau dado por Boulos não surtiu o efeito desejado, foi sua carta aos paulistanos divulgada nesta segunda-feira, numa tentativa de retomar o fio perdido  do “Boulinho, paz e amor”. É uma tentativa alcançar o mesmo sucesso da “Carta aos brasileiros” do Lula de 2002, mas talvez seja tarde demais.

Parece ter sido apenas um desvio de rota na linha de emular a estratégia de Marçal do primeiro turno, pautada na economia da atenção. Boulos anuncia que vai fazer uma denúncia bombástica contra Ricardo Nunes. É “marcialismo” na veia de sua candidatura.

A reação de Nunes à estratégia agressiva de Boulos tem sido a de responder na mesma moeda. Pauta-se pelo dogma do marketing político, segundo o qual não responder na mesma intensidade passa, para o eleitor, a imagem de covardia. Ainda mais que o  ataque de seu opositor se deu no momento em que  o prefeito de São Paulo estava no epicentro da crise do apagão.

Ricardo Nunes, como pesquisas indicam, leva vantagens quando foca nas realizações de sua gestão. Aliás, a grande lição do primeiro turno foi a demonstração do cansaço do eleitorado com a polarização. Ele quer respostas concretas para os seus problemas e para a melhoria de sua cidade.

Marçal tem sido o sujeito oculto no segundo turno paulistano. Fez escola a ponto de Boulos, que foi vítimas de seus métodos, hoje mimetizar sua estratégia. De olho gordo em seu espólio eleitoral, o vale-tudo dá o tom da disputa em São Paulo. A “marcialização” da política parece ter vindo para ficar.

 

Hubert Alquéres é presidente da Academia Paulista de Educação 

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