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Maldições históricas (por Cristovam Buarque)

Bolsonaro será vista como uma maldição na história do Brasil. Mas não será a única que caracteriza nossa história

atualizado

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Arthur Menescal/Especial Metrópoles
Manifestação contra Jair Bolsonaro organizado pelo MBL na Esplanada
1 de 1 Manifestação contra Jair Bolsonaro organizado pelo MBL na Esplanada - Foto: Arthur Menescal/Especial Metrópoles

Quem observa a política e a realidade social no presente, tem razão dese assustar com as maldições que pesam sobre nossa história, é preciso olhar adiante para perceber o potencial que temos, se formos capazes de reorientar nosso destino nacional.

Por sua estupidez e maldade no tratamento da epidemia, pela desmoralização do país no exterior, pela desconstrução de nosso sistema científico, pela desconfiança sobre a as eleições e ameaças à democracia, a presidência de Bolsonaro será vista como uma maldição na história do Brasil. Mas não será a única que caracteriza nossa história, e de fato ela é consequência de outras anteriores que amarram há séculos nossa evolução civilizatória.

A estrutura escravocrata por quase toda nossa história, submetendo parte de nossa população ao trabalho escravo deixou a maldição que até hoje pesa provocando racismo, aceitação da desigualdade, da corrupção e da violência. Como irmão da escravidão, o latifúndio, imposto desde as capitanias hereditárias, deixou a maldição da terra como reserva de valor nas mãos de especuladores e não como fator de produção nas mãos dos trabalhadores.

O Brasil sofre a maldição do desrespeito aos limites dos recursos nacionais: ecológicos, fiscais, urbanos, sociais. Aceitando-se depredar os patrimônios como se fossem infinitos. O resultado é a degradação ambiental, as cidades transformadas em “monstrópoles”, a moeda desvalorizada sistematicamente por inflação.

Em parte, isto foi uma exigência da maldição do desenvolvimento industrial baseado sobretudo na indústria automobilística. Esta opção exigiu concentrar renda, endividar o Estado e as famílias, degradar o meio ambiente, desorganizar as finanças públicas e individuais.

Esta maldição foi possível por causa da aliança maldita entre políticos populistas e economistas irresponsáveis, incapazes de adaptar teorias importadas à nossa realidade cultural.

Talvez a maior e mais permanente maldição esteja no desprezo à educação de base. Por séculos temos descuidado de implantar um sistema educacional que assegure escola com máxima qualidade a cada criança brasileira, independente da renda e do endereço de sua família. Esta opção histórica levou à formação de uma economia com baixa produtividade, e uma sociedade desigual, violenta, sujeita à política corrupta e populista. A maldição da deseducação é a mãe de todas as maldições históricas que caracterizam o Brasil, de Cabral a Bolsonaro.

Da mesma maneira, é na observação do desafio educacional que podemos encontrar otimismo para o futuro do Brasil. Se o païs se une em torno a uma revolução que assegure educação de qualidade para todas nossas crianças, no prazo de uma geração, o Brasil poderá mobilizar o maior de nossos recursos: os cérebros de nossa população. Neste século do Conhecimento, com nossa imensa riqueza natural, com o ativo econômico já implantado apesar dos erros, aliados à população educada, o Brasil pode dar o salto civilizatório que vem sendo impedido pelas maldições do passado.

Cristovam Buarque foi ministro, governador e senador

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