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Mais do que uma foto (por Marcos Magalhães)

A reunião de cúpula do G-20

atualizado

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Abertura do G20 no Rio de Janeiro
1 de 1 Abertura do G20 no Rio de Janeiro - Foto: Reprodução

O bom tempo ajudou. O céu azul, a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar formaram o cenário perfeito para a grande foto dos líderes mundiais presentes à reunião de cúpula do G-20, no Rio de Janeiro. Apenas mais uma imagem vazia? Depende do ponto de vista.

O acaso parece ter tirado da foto o ainda presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que no momento do encontro reunia-se com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.

Ausente da imagem, Biden foi tema de preocupações durante o dia, por haver autorizado a Ucrânia a usar mísseis de longo alcance contra a Rússia.

O episódio ocorreu logo após um ataque aéreo russo à capital da Ucrânia, algumas horas antes do início da reunião de cúpula. O que levou delegações europeias a defender a reabertura do texto final do encontro do G-20.

Os gestos de Putin e Biden ilustraram as fraturas expostas da atual ordem global. E, como se isso não fosse suficiente, as primeiras horas da cúpula foram marcadas pela resistência do presidente da Argentina, Javier Milei, em endossar a principal iniciativa do país anfitrião – a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

A delegação do país vizinho acabou se somando à iniciativa, apoiada por 82 nações, pela União Europeia e pela União Africana. Mas em seus próprios termos.

“A República Argentina se compromete a lutar contra a fome e a pobreza mediante reformas de mercado”, diz documento divulgado pelo jornal La Nación.

Os movimentos de Milei na cúpula indicam as mudanças no cenário global previstas para logo após a posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, com quem o presidente argentino se encontrou poucos dias antes.

Trump é quase o oposto do multilateralismo. Os seus planos já anunciados mostram que ele não está nem aí para alguma coisa como uma ordem global mais justa e por um planeta menos desigual e mais sustentável.

A vitória de Trump, por sinal, encheu de argumentos os analistas que veem o mundo pela ótica exclusiva do realismo.

Ou seja, o resultado das eleições americanas indicaria que o destino do mundo é mesmo o de se submeter a uma competição caótica sem espaço para muitas iniciativas de entendimento e cooperação. America First.

Enquanto ele não vem, o governo brasileiro – como anfitrião do G-20 – adotou o caminho oposto. Em suas primeiras palavras no encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou clara a importância que sua administração concede ao diálogo político.

Lula lamentou que a diplomacia tenha dado lugar à intransigência, voltou a defender uma reforma na Organização das Nações Unidas e lamentou que a comunidade internacional tenha se resignado a “participar de disputas hegemônicas, sem produzir mudanças concretas no mundo”.

“A resposta para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo”, afirmou Lula. “Não é preciso esperar uma Terceira Guerra Mundial, nem um colapso econômico, para produzir as mudanças de que o mundo precisa”.

Apenas mais algumas palavras bem-intencionadas, quando o mundo se perde em guerras e crescem as disputas hegemônicas, principalmente entre Estados Unidos e China?

Aqui, como no caso da foto dos líderes mundiais junto à Baía de Guanabara, há várias interpretações possíveis – e até mesmo não excludentes.

Os conflitos – bélicos ou políticos – podem ser vistos a olhos nus. Não há como ignorá-los. Mas a busca de soluções coletivas não pode ser vista como um ingênuo esforço.

Mesmo pequenos gestos contam. Nas duas últimas reuniões de cúpula do G-20, não se conseguiu sequer registrar a grande “foto de família” dos principais líderes mundiais.

Agora, um dos principais cartões postais do Brasil serve de pano de fundo para a volta de uma prática de formalidade diplomática, sim, mas que ainda assim havia sido suspensa.

Os desafios do atual cenário global permanecem tão grandes quanto antes. Talvez até se tornem mais intensos após a posse de Donald Trump, em janeiro. Por isso, deve ser bem-vindo qualquer passo para tornar o mundo um lugar mais justo e seguro.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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