metropoles.com

Mais ação, menos discurso (por Gaudêncio Torquato)

Ação, ação, ação, cobrou o presidente

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Igo Estrela/Metrópoles @igoestrela
Presidente Lula acompanhado da presidente da Petrobrás e de ministros, participam da cerimônia de Assinatura de Contrato entre BNDES e MJSP recursos do Fundo Amazônia7
1 de 1 Presidente Lula acompanhado da presidente da Petrobrás e de ministros, participam da cerimônia de Assinatura de Contrato entre BNDES e MJSP recursos do Fundo Amazônia7 - Foto: <p>Igo Estrela/Metrópoles<br /> @igoestrela</p><div class="m-banner-wrap m-banner-rectangle m-publicity-content-middle"><div id="div-gpt-ad-geral-quadrado-1"></div></div> </p>

Certa feita, em seu segundo mandato, Luiz Inácio fez intenso apelo a seus ministros por mais ação e menos discurso, mais integração e menos divergência, mais criatividade e menos queixa de falta de verba. Batia de frente no modelo de gestão capenga que domina a administração pública federal e que ele próprio ajuda a entortar com a ampliação exagerada de ministérios e secretarias especiais, beirando os 40.

Pois bem, há dias, em suas falas presidenciais de terceiro mandato, fez nova incursão, cobrando dos ministros mais resultados e lembrando que dinheiro tem e basta olhar para o orçamento de cada Pasta. Ação, ação, ação, cobrou o presidente.

E por que tal cobrança? Resposta: por causa do desequilíbrio entre a hiperatividade decisória e a eficiência de operação da burocracia governamental. Uma ordem do presidente acaba esbarrando nos chamados canais burocráticos. Atrasos no cumprimento de decisões, pouca motivação e disposição de burocratas, falta de sinergia, confusão de competências e ausência de controles convergem para estabelecer as bases do império do desperdício e da irresponsabilidade, cujas consequências entram pelo ralo do risco-Brasil.

A reforma na administração é mais uma lição de casa a ser feita. Se a máquina fosse mais lubrificada, mais ágil e menos desequilibrada, o Governo aumentaria sua credibilidade junto à sociedade, garantindo um impacto que reformas, como as da previdência e tributária, só alcançarão no longo prazo.

A crise de governabilidade, tão proclamada quando dela se faz uso para justificar a necessidade de se promover o ajuste fiscal/tributário, tem um forte componente na esfera da execução das políticas públicas, na incapacidade de fazer valer as leis e no descumprimento das decisões mais altas. A herança patrimonialista do Estado brasileiro e o sentido cartorial que ainda inspira padrões burocráticos encontram eco na alma de tecnocratas, uma casta recheada de representantes que confundem espaços públicos com territórios privados.

Para agravar a situação, ainda há de se conviver com a praga do loteamento de cargos entre políticos, principalmente as caravanas do Centrão. Há mais de 20 mil cargos na administração federal, o que mostra a extensão das “capitanias hereditárias”, que teimam em fixar sua permanência no território. Sob esse quadro desalentador, torna-se impossível estabelecer controles adequados para fiscalizar a aplicação de recursos e menos ainda garantir a continuidade de programas administrativos de gestões anteriores, considerados exemplares. Ao custo-Brasil, soma-se o preço da descontinuidade administrativa.

Somam-se ainda os custos do desperdício, das viagens, do tráfico de influência, da improbidade administrativa, do tamanho da burocracia governamental. Convivemos com uma gigantesca máquina, de cabeça agigantada e corpo debilitado, um arremedo de Proteu, o deus marinho, que tinha forma extravagante. Por que 39 ministérios, quando se sabe que a governança seria bem administrada com não mais que 20?

Com esse perfil disforme, cresce o descompasso entre o peso da cabeça governamental e os outros volumes, situação que gera problemas de ajustamento, até em reuniões ministeriais regadas a bocejos. O modelo de gestão está inadequado nessa quadra que recomenda racionalização, enxugamento, síntese e convergência.

Nas organizações privadas, identifica-se nas chefias intermediárias a retenção de informação, fato que deixa os quadros executivos, ao final da linha, desprovidos da base de conhecimento necessária para executar as tarefas. E isso ocorre porque determinados chefes, com receio de perder poder, não passam informações aos subordinados. No caso do Governo, o fenômeno abriga interesses de burocratas em segurar a peteca, influência do compadrio político, vícios e mazelas da cultura da administração pública e sentimento de posse do espaço público pelos “donos dos pedaços”.

Tempestividade e agilidade são conceitos inexistentes no vocabulário dos burocratas. Integração de setores e programas é algo que não combina com quem disputa poder. A burocracia não percebe que o corpo social continua desnudo. O próprio presidente deve achar que a administração se parece com uma bicicleta que não sai do lugar.

A sociedade aceita que os governos tenham um tempinho para lubrificar a máquina. Mas começa a duvidar quando as peças continuam enferrujadas. Lula ganhou seu terceiro mandato sob a esperança de mudar o que está atravancado, de fazer o melhor governo de toda a história, enfim, de levar o pão para a mesa dos famintos e despossuídos. Vai cumprir a promessa?

 

Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?