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Lula perde injustamente a chance de resolver conflito (Por Juan Arias)

O presidente brasileiro luta para ser uma peça fundamental, uma espécie de novo profeta do Sul global, uma espécie de Mandela

atualizado

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Ricardo Stuckert
Lula depositando flores no túmulo de Yasser Arafat
1 de 1 Lula depositando flores no túmulo de Yasser Arafat - Foto: Ricardo Stuckert

veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU à proposta do Brasil para acabar com o novo conflito entre Israel e Gaza, que obteve 15 votos a favor, tem sido um balde de água fria na diplomacia do Governo de Lula, que jogou todas as suas cartas nele.

Ouso dizer por que desta vez o Governo brasileiro apostou tudo para apresentar uma proposta meticulosamente estudada que não faria mal a ninguém e que focaria mais na tragédia humana que milhões de pessoas vivem.

É verdade que a esquerda brasileira era a favor dos palestinos e da criação de dois Estados e que as suas relações com os Estados Unidos eram bastante conflituosas, com piscadelas para os países árabes e, especificamente, para o Irã. Desta vez, o Brasil, nos inúmeros ajustes à sua proposta agora rejeitada, acabou definindo o Hamas como um movimento terrorista.

Lula, desde que o Brasil assumiu a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU neste mês, deixou clara a intenção de basear sua iniciativa de paz para o conflito em Israel com foco na tragédia humana. E a repatriação de brasileiros que queriam sair de Israel, por exemplo, está sendo exemplar, como tem destacado a imprensa. Ele até disponibilizou o avião presidencial. E toda a operação foi feita pelo Governo.

A desilusão de Lula continua a atingi-lo justamente quando já iniciava o seu terceiro mandato com ênfase na política externa com o objetivo de se tornar um líder mundial. Assim, ao vencer as eleições, dedicou-se ao seu compromisso de mediar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Apostou tudo multiplicando viagens ao estrangeiro para reuniões com dezenas de Chefes de Estado e até com propostas arriscadas de política de estratégia global, apoiando uma espécie de novo eixo centrado desta vez mais do que no poder tradicional dos Estados Unidos e do Ocidente, no horizonte do novo Sul que está a emergir com a sua abordagem à China e a sua ideia de encontrar uma nova moeda para substituir o dólar.

Lula luta para ser uma peça fundamental, uma espécie de novo profeta do Sul do mundo, uma espécie de Mandela brasileiro que acaba deixando uma marca no mundo. Para o novo Governo progressista do Brasil após o furacão do governo golpista de extrema direita, a questão da nova guerra em Israel é duplamente difícil dado que o Bolsonarismo teve o Governo Netanyahu como bandeira e guia .

O antropólogo Wilson Gomes questiona na Folha de São Paulo porque o debate sobre Israel e Palestina está tão inflamado no Brasil. Segundo ele: “Neste conflito, os depósitos de resíduos antissemitas e islamofóbicos são um reservatório de símbolos e afetos”. E acrescenta que “a extrema direita e a esquerda brasileira vivem uma dialética sem síntese. Um é o que o outro nega.”

Lula não é daqueles políticos que encolhem. E apesar do veto dos Estados Unidos à sua proposta de resolução do novo conflito bélico no Oriente Médio, motivado pela desculpa de não ter mencionado o direito de Israel à autodefesa, continuará a insistir no seu propósito de ser um mediador no conflito. que cada momento está tingido de novos dramas humanos.

O seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, Mauro Vieira, não negou que o veto à proposta de paz tenha sido “triste e decepcionante”, mas disse que o Governo continuará a apresentar novas ideias baseadas na urgência de travar uma catástrofe e uma tragédia humana que poderá acabar por incendiar novamente o Oriente Médio. E isto, sem poder prever até onde pode estender-se um conflito com duas guerras em curso nas quais ressoam as notas fúnebres da força atômica sempre à espreita, embora ainda em voz baixa.

(Transcrito do El País)

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