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Lula: falou, pagou! (Por Leonardo Barreto)

A pressão que opera hoje sobre o presidente não é aquela típica exercida pelos eleitores, mas é a da própria história

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Lula
1 de 1 Lula - Foto: Arte/Metrópoles

Dênis Ferraz, um analista experiente do mercado financeiro, me mandou um alerta na noite de domingo (13): “Nossa bolsa fez low… esse inflow recorde, leia-se China, foi uma cavalice”! Sem entender muita coisa, mas intuindo que se tratava de algo importante, devolvi um “amigo, pode desenvolver mais”?

Ferraz, sacando que tinha ido rápido demais com o amigo cientista político, traduziu: “Léo, esse gráfico (a mensagem estava acompanhada de uma imagem) mostra o fluxo de dinheiro para mercados emergentes batendo recorde na semana passada. Porém, nossa bolsa está abaixo de 130.000 pontos pós bater 139.000 meses atrás. Ou seja, de todos os países emergentes, o Brasil (foi um dos únicos) que viveu saída de investidores. Reflexo do que estamos falando sobre crise fiscal, BC subindo juros…” .

A mensagem apoia um cenário muito ruim descrito pelo economista André Perfeito que tem sido um crítico firme do pessimismo do mercado. Com o título “O mercado espera – e constrói – uma recessão”, ele destaca a hipersensibilidade do mercado a falas de Lula sobre qualquer proposta envolvendo mais gastos. Ele afirma que investidores fazem “descontar a valor presente a uma taxa muito alta” – que eu entendo como alta de juros futuros, dólar e queda da bolsa – os discursos políticos do presidente.

Trata-se de um dilema e tanto. Lula sempre foi conhecido, desde os tempos de sindicalista, por combinar discursos radicais e atuação pragmática. Aplicado à política econômica, isso significa que nem todas as promessas populares feitas pelo petista seriam entregues exatamente como foram feitas. Haveria sempre um crivo de moderação.

Essa dubiedade, que o mercado passou a entender desde 2002 como fazendo parte da persona de Lula, favoreceu o petista durante muitas eleições. A ele se dava a licença de discursos irresponsáveis do ponto de vista fiscal porque se acreditava que, na hora da decisão, um senso de responsabilidade prevaleceria. Esse olhar benevolente permitiu a Lula prometer qualquer coisa sem jogar o mercado no precipício.

Mas, aparentemente, isso acabou. A aceleração dos gastos públicos desde 2023 e uma atitude de não reconhecer limites fiscais para suas ambições políticas retirou de Lula o benefício da dúvida. O que ele tem dito tem sido interpretado de forma literal pelos agentes econômicos.

O cenário piorou consideravelmente após as eleições municipais e as pesquisas de popularidade mostrarem um desempenho medíocre de Lula mesmo após o presidente ter tirado todos os coelhos da cartola (as ideias novas têm sido ampliar fórmulas antigas, como um novo vale gás e outra bolsa universitário). A pressão que opera hoje sobre o presidente não é aquela típica exercida pelos eleitores, mas é a da própria história, que definirá como Lula será lembrado.

Tendo isso em mente, quais são as chances de Lula adotar o caminho da ponderação mesmo diante das primeiras consequências de uma situação de insustentabilidade fiscal? Fará um ajuste nos anos que pavimentam 2026? Ou continuará forçando o motor, mesmo com o ponteiro da temperatura mostrando superaquecimento, tentando aprovar aumentos de arrecadação e acusando quem aponta o problema fiscal de antipobre?

Não sei. Mas o que os economistas Dênis Ferraz e André Perfeito estão dizendo é que o mercado não vende mais nada fiado para Lula. Agora é “falou, pagou!”

 

Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política (UnB) e sócio da consultoria Think Policy.

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