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Liberté, égalité, fraternité, démocratie (por Mary Zaidan) 

Não haveria a fantástica celebração da diversidade se a extrema-direita tivesse vencido na França

atualizado

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1 de 1 santa-ceia-drag-queens-olimpíadas - Foto: Reprodução/X

A espetacular cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos que Paris ofereceu ao mundo seguramente teria outra cara se o partido de Marine Le Pen tivesse vencido as eleições legislativas francesas de 7 de julho.  Poderia até ser mantida a ideia do desfile ao ar livre pelos cenários icônicos da Cidade Luz, mas jamais seria a celebração da diversidade, da mistura de brancos, pretos, pardos, amarelos, gays e drags – receita repudiada pela extrema-direita de todos os cantos do planeta, que em vez de festejar o diferente o exclui.

Com poucas variações, o cardápio dos extremistas de direita costuma associar patriotismo e nacionalismo à nacionalidade, desmerecendo e expurgando imigrantes. Donald Trump promete banir imigrantes sem documentos dos Estados Unidos, os quais ele já chamou de “animais”, atribuindo a eles um inexistente aumento da criminalidade. Com o mesmo bodoque que rechaça imigrantes, Trump acerta os negros: “eles (os imigrantes) estão pegando os empregos dos negros”, que, em sua cabeça supremacista só teriam direito a lavar privadas.

Menos ostensiva, mas também perigosa, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni tem conseguido emplacar pautas xenófobas – “não vou permitir que a Itália se torne um campo de refugiados europeus” -, e retrógradas nos direitos já adquiridos, como o do aborto. Ultra-nacionalismo e xenofobia também embalam o AfD alemão, que, mesmo eurocético, recentemente conquistou 11 cadeiras no Parlamento Europeu.

Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orbán defende pureza étnica – “uma raça húngara sem misturas”. Além de reprimir imigrantes, ao longo de seus quatro mandatos Orbán infernizou e limitou a vida de jornalistas, de entidades de direitos humanos e da comunidade LGBTQIA +, praticamente obrigada a viver na clandestinidade. O mesmo ocorre na Rússia de Vladimir Putin, onde a união homossexual é crime e a mudança de sexo, por cirurgia ou tratamento hormonal, proibida por lei.

A repressão à homossexualidade também se aplica a governos populistas de extrema esquerda. Na Nicarágua de Daniel Ortega, a perseguição é implacável, e na Venezuela de Nicolás Maduro, que neste domingo vai às urnas, as prisões de gays são frequentes. No país vizinho, a repressão para qualquer um que ouse discordar do ditador é cotidiana. Por lá, a oposição deve vencer, mas dificilmente levará.

Esses exemplos são suficientes para apontar o quão semelhantes os extremos à direita ou à esquerda podem ser. Com eles, anda-se para trás.

Felizmente, nem uma ponta extrema nem a outra têm conseguido maioria nos países que respeitam os votos populares (nas ditaduras como Irã, Venezuela, Rússia, Nicarágua, a conversa é outra). Vive la democratie!

Nos Estados Unidos, depois da angústia de um Joe Biden debilitado no debate contra Trump, o jogo virou. Kamala Harris pode até não chegar lá, mas o fim do túnel ganhou luz. Latinos, negros, jovens, imigrantes “ilegais”, minorias e larga faixa da classe média americana espremidas pelo trumpismo acenderam a lanterna para tentar vencer o obscurantismo. Isso está expresso nos primeiros US$ 100 milhões arrecadados por Kamala – 61% de doadores estreantes. Quem sabe em vez de uma “América grande de novo” o eleitor prefira uma América melhor. Talvez Kamala, candidata impensável há dois meses, consiga traduzir isso atraindo centristas e esquerda, e convencendo os jovens a irem às urnas.

A política, assim como a história, é construída dia após dia. Emmanuel Macron, presidente da França, que chegou a ser acusado de ter cometido um erro histórico ao decidir antecipar as eleições parlamentares diante do crescimento do Reunião Nacional (RN) de Le Pen no Parlamento Europeu, hoje é um vitorioso. Ainda que seu partido tenha perdido cadeiras e que a esquerda tenha crescido, vencendo o pleito francês, Macron pregou a união e conseguiu impedir o sucesso dos extremistas à droite. Tem problemas para repetir o enlace vitorioso no exercício do governo, mas ultrapassou a primeira etapa – a mais dura delas.

De cabeça erguida, Macron abriu os jogos olímpicos de uma França dinâmica e “aliviada”, que usa o melhor da tecnologia para fazer as pessoas brilharem. Nela, mesmo sob chuva torrencial, venceram a cultura, a arte e a diversidade. O mundo precisa muito disso.

Mary Zaidan é jornalista 

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