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Liberdade, desigualdade, agressividade (por Eduardo Fernandez Silva)

O clássico “liberdade, igualdade, fraternidade”ficou para trás

atualizado

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Imagem mostra um homem branco, de meia idade proferindo palavras de ódio em frente ao notebook - Metrópoles - suplemento agressividade
1 de 1 Imagem mostra um homem branco, de meia idade proferindo palavras de ódio em frente ao notebook - Metrópoles - suplemento agressividade - Foto: imbarney22/ Getty Images

O clássico “liberdade, igualdade, fraternidade”, que deu suporte à construção das modernas democracias, parece foi substituído pelas palavras e atitudes que intitulam o presente texto. Liberdade só para os fortes; desigualdade sendo até celebrada como instrumento de “desenvolvimento”, e agressividade como meio de “progresso” na vida, de indivíduos e nações. Triste e perigosa transformação!

A defesa da liberdade individual irrestrita, sem limites mesmo com consequências danosas para terceiros, tem levado à desigualdade e à agressividade crescentes, afastando-nos do sonho original.

Como acolher pleitos de que a liberdade individual não pode ser restringida? Qualquer um pode ter o “direito” de dirigir do lado esquerdo da pista, mesmo estando no Brasil, ou do direito, quando na Inglaterra? E o “direito” de difundir falsidades ou ocultar verdades, apenas por que trazem benefício a quem as espalha ou oculta? E o “direito” de mascarar que o fumo e a queima de combustíveis fósseis fazem mal? A extensão da “liberdade” pessoal ao capital, por sua vez, é que possibilita a destruição da biosfera, em proveito de poucos: ainda hoje, nada menos que 77% dos humanos vivem com menos de R$3.000,00/mês (fonte: Our World in Data)!

Oligopólio e manipulação de mercados são consequências da liberdade sem peias ao capital. Por mais que algumas dessas estruturas sejam denunciadas, é forçoso reconhecer que esta é, hoje, a forma dominante de organização da economia, local e mundialmente. Alguns dos efeitos desse tipo de organização, além da destruição citada, são a obesidade crescente da população (e custos cada vez maiores em mortes e em despesas com saúde!), decorrente da “liberdade” de anunciar o consumo de refrigerantes como sendo a porta da felicidade, ou de opioides como solução dos males sociais de solidão e desagregação social, ou defender mais armas para se chegar à paz! Levando, ainda, à ampliação da desigualdade.

Processo que desemboca em maior agressividade, tanto para “subir na vida” (para tal, “danem-se os princípios morais”!), como para se defender daqueles que não “subiram na vida” e passaram a ser vistos como “inferiores” e “invasores”, a exemplo de quem busca sair do Sul Global migrando ao Norte Global. Tidos, por alguns possíveis dirigentes de grandes nações, como “animais”.

A agressividade se manifesta também no discurso político: Ocidente X Oriente; líder A x líder B; alguns ameaçando guerra nuclear; outros praticando genocídios.

E onde estão sendo aplicadas políticas, coerentes e eficazes para além do discurso, para ampliar as liberdades, desde que preservada a qualidade de vida de terceiros, para reduzir as desigualdades e para promover a fraternidade? Não é loucura esperar que esses valores e atitudes sejam reabilitados e floresçam, apesar da manutenção de políticas que os estão solapando e minando?

A mudança de rumo tem de ser radical! Talvez seja hora de inverter dogmas assentados em muitas constituições e proibir que maiores de 35 anos assumam cargos diretivos em municípios, estados e nações!

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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