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Leitura dos brasileiros vai de ladeira abaixo (por Hubert Alquéres)

Pesquisa aponta que, pela primeira vez, a maioria das pessoas (53%) sequer leu uma parte de um livro nos últimos três meses

atualizado

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Agência Brasil
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O nível da leitura de um povo é indicador relevante do estágio cultural de um país e do seu grau de desenvolvimento. Nós vamos muito mal neste requisito, como revelou a sexta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil(*). Na comparação com o levantamento realizado em 2020, perdemos quase sete milhões de leitores. Pela primeira vez, a maioria das pessoas (53%) sequer leu uma parte de um livro nos últimos três meses. A recente pesquisa confirma uma tendência que vem desde 2015, quando o hábito da leitura dos brasileiros entrou em marcha descendente.

Por ser a mais abrangente, a pesquisa é a fotografia mais precisa da leitura no Brasil. Sua sexta edição revelou que, na comparação com o levantamento anterior, o brasileiro está lendo menos. Em 2020 lia, em média, quase cinco livros por ano, agora lê quase quatro. Outra revelação assustadora: apenas 27% leram um livro inteiro e não apenas parte de um livro.

Em nove anos, a perda de leitores foi de onze milhões de leitores, uma severa sangria, com impacto importante em todas as esferas da sociedade, particularmente na cultura e na educação. O diagnóstico da pesquisa é mais preocupante quando se leva em consideração a queda significativa de nove pontos, na faixa de cinco a onze anos de idade.

Essa é a faixa dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Nela, as escolas deveriam desenvolver nas crianças o gosto pela leitura. Estamos falhando em uma das missões mais importantes da educação, a de moldar e desenvolver habilidades sócioemocionais de nossos meninos e meninas e de abrir seu horizonte por meio da leitura. Quanto mais cedo os estudantes estabelecem o hábito de ler livros, melhor será o seu desempenho escolar e sua sociabilidade.

É para se preocupar.

Como revelou a pesquisa, a sala de aula vem perdendo espaço como o ambiente da leitura. Esse fenômeno foi confirmado pela coordenadora do Retratos da Leitura, Zoara Failla: “É preocupante notar como as salas de aula estão deixando de ser um lugar de leitura, conforme a série histórica demonstra”. De fato, a série mostra que em 2007, 35% dos entrevistados citaram o espaço escolar como o lugar onde costuma ler livros. Em 2011, foram 33%. Na edição seguinte, de 2015, as menções correspondiam a 25% da população. Em 2019, foram 23%. E agora 19%, “o menor índice já registrado”.

Diversos fenômenos contribuíram para a sala de aula perder densidade como espaço importante para se adquirir o hábito da leitura, mas certamente tem grande peso a falta de políticas públicas voltadas para o incentivo da leitura, bem como a falta de infraestrutura adequada e de recursos humanos para a escola cumprir esse seu papel. Afinal, muitas delas não contam com bibliotecas nem um bom acervo de livros.

Não só a escola, como instituição, vem falhando na sua missão de desenvolver, desde cedo, o hábito da leitura em nossas crianças e jovens. Em decorrência das intensas transformações e avanços tecnológicos, houve uma importante inflexão na forma como os brasileiros se ocupam seu tempo livre.

A Retratos da Leitura mostra que 78% dos entrevistados gastam parte desse tempo na internet acessando o WhatsApp (71%) ou navegando pelas redes sociais (49%). São significativos também os que assistem televisão (71%), escutam música ou rádio (60%) ou assistem a vídeos ou filmes em casa (53%).  Segundo a coordenadora da pesquisa, isso afeta especialmente os mais jovens:

“Está crescendo o percentual nessa faixa etária daqueles que dizem que estão nos games, que estão assistindo a vídeos. Então, em vez de os pais estarem apresentando livro para entretenimento, fica mais fácil oferecer o celular com jogos e vídeos”. Assim, a instituição família também não está contribuindo para desenvolver em seus filhos o hábito e o gosto pela leitura.

Desde sua primeira edição de 2007, o Retratos da Leitura no Brasil tem constatado que o livro mais lido pelos brasileiros é a Bíblia. Os livros religiosos sempre estiveram entre os mais lidos, fenômeno reafirmado no levantamento de 2024. Quando se trata da leitura de obras da literatura o quadro é pior. Em média, os brasileiros leem meio livro por ano. Há uma inversão das curvas, até 2019 havia um número maior de brasileiros com hábito de leitura, agora a maioria é de não leitores. Também pela primeira vez é maior o número de pessoas que dizem não gostar de ler (29%) é superior ao que gostam, 26%.

Um povo de baixa leitura é um povo de baixa instrução. Não é de estranhar, portanto, o fato de 30% dos brasileiros serem considerados analfabetos funcionais. Isso se reflete no desempenho dos nossos alunos no sistema de avaliação do ensino. Também incide sobre a qualidade e produtividade da mão de obra brasileira, bem como na sua inserção no moderno mercado de trabalho, cada vez mais exigente de profissionais dotados de espírito crítico, capacidade de liderança, dotado de resiliência e espírito colaborativo.

A falta de leitura contribui negativamente para a inserção de nossa juventude na sociedade e para o exercício pleno da cidadania.

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Hubert Alquéres é presidente da Academia Paulista de Educação.

(*) A Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é uma realização do Instituto Pró-Livro com o apoio da Câmara Brasileira do livro (CBL), ABRELIVROS e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Ela teve a parceria da Fundação Itaú e o patrocínio do Itaú UNIBANCO. A aplicação da pesquisa foi feita pelo IPEC.

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