Legisladores equivocados? (por Eduardo Fernandez Silva)
Nos EUA, pesquisa recente mostrou que 25% dos senadores e deputados negam a ciência do clima
atualizado
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Que será de nós se nossos legisladores tiverem visões equivocadas sobre os problemas que enfrentamos? Que será de uma empresa se seus dirigentes não acreditarem em evidências e se pautarem por preconceitos? Não é difícil concluir que estaremos fadados a sofrimentos, à perda de seu sustento, às agruras da incerteza crescente e desafios ampliados no futuro.
Pois é mesmo assim que estamos, todos os oito bilhões de humanos hoje vivos. Triste realidade, sinistro futuro. Afinal, entre os poderosos da terra encontram-se Trump, Netanyahu, Putin, Maduro, Bukele, Ortega, Orban, Miley e muitos mais, todos orientados por preconceitos, vieses grupais e sociopatias diversas.
Mas, o pior é que não são apenas eles; da maioria dos membros dos parlamentos pode-se dizer o mesmo, o que conflita com a versão que tenta nos convencer – e convence muitos -, de que os parlamentares são nossos representantes. Tal representatividade é fraquíssima ou inexiste em pelo dois parlamentos muito importantes para nós: o nosso e o dos EUA.
Quanto ao nosso, basta lembrar que mais de 100 deputados são réus ou investigados em processos criminais; para que fossem, de fato, representantes da população, seria necessário que 20% dos brasileiros estivem assim processados ou investigados; o ChatGPT estima que a proporção da população nessas condições está entre 1% e 5%! O mesmo instrumento estima o patrimônio médio dos deputados federais, em 2018, em R$4milhões, ao passo que o do “brasileiro mediano” era, apenas, cerca de R$25mil, ou 0,006% da riqueza de seus… é possível dizer representantes?
Outra falha de representação diz respeito ao entendimento de as mudanças climáticas serem reais e decorrerem de fatores antropogênicos. Enquanto 97% (DataFolha) dos brasileiros adultos concordam com a afirmação acima, a velocidade e a profundidade das recentes alterações legais com relação ao tema, agravando suas causas, mostram que estamos na mão de negacionistas, sociopatas interessados em seus próprios patrimônios, mesmo em detrimento da sociedade.
Nos EUA, pesquisa recente mostrou que 25% dos senadores e deputados negam a ciência do clima, recusam-se a aceitar que as ações humanas estão solapando as bases da vida no planeta. Entre os norte-americanos, não mais que 11% têm essa visão e mais da metade estão “alarmados” ou “preocupados” com o fenômeno, de acordo com pesquisa da universidade Yale.
Além dos muitos milhões de dólares recebidos da indústria do combustível fóssil por tais congressistas, lá no “irmão do norte” há ainda regras eleitorais que criam incentivos para os parlamentares divergirem dos seus, digamos, à falta de melhor termo, “representados”.
E no Brasil, onde “caciques” da tribo dos psicopatas egoístas controlam partidos políticos, nos vários níveis da Federação, alguém duvida que haja regras semelhantes? A negação da ciência do clima, portanto, decorre não de engano, mas do mais cruel egoísmo, tão cruel a ponto de tornar sociopatia.
Estejamos atentos nas próximas eleições; mudanças importantes podem começar no nível local!
Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados