metropoles.com

Joe Biden surpreende e governa mais pela esquerda do que Obama

O presidente democrata que derrotou Donald Trump inicia uma revolução política inesperada e deixa os europeus

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Alex Wong/Getty Images
Joe Biden
1 de 1 Joe Biden - Foto: Alex Wong/Getty Images

Por André Gustavo Stumpf:

No discurso de posse, em dia 20 de janeiro de 1981, o presidente republicano Ronald Reagan revelou a síntese de seu pensamento político: “O Governo não é a solução do nosso problema. O Governo é o nosso problema”. Aquele lema atravessou o mundo, fez escola e passou a ser considerado quase um dogma.

No Brasil é o mantra do ministro Paulo Guedes. Quarenta anos depois, Joe Biden, de 78, completa seus primeiros cem dias de exercício efetivo do poder e anuncia que o governo não é o problema, ao contrário, é a solução. Por essa razão, é imperioso elevar impostos sobre empresas e contribuintes de mais alta renda.

O veterano democrata chegou pisando devagarinho no Salão Oval da Casa Branca, mas rapidamente iniciou uma revolução política inesperada e imprevista. Ultrapassou Barack Obama pela esquerda, deixou os europeus de queixo caído e lançou uma saraivada de projetos sociais com cifras estonteantes que fazem lembrar o New Deal de Franklin Roosevelt.

Ao plano de resgate já aprovado (1,9 trilhão de dólares, valor equivalente ao PIB brasileiro) somou-se o pacote de US$ 2,3 trilhões e a nova proposta de 1,8 trilhão para educação e as famílias (estes ainda pendentes de aprovação pelo Congresso).

A pandemia derrubou a economia norte-americana. A queda foi brusca e profunda. No outro lado do mundo, a China conseguiu chegar ao final do ano passado com crescimento do produto interno bruto ao redor de 2%. Os norte-americanos registraram número negativo. No primeiro trimestre deste ano, os chineses anunciaram crescimento de 18% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Se o esforço de Joe Biden der certo ao final deste ano, os Estados Unidos terão recuperado os números anteriores à pandemia. E deverão crescer em torno de 6%, o que é significativo naquela economia. O presidente norte-americano entendeu que é necessário ter pressa.

O isolacionismo de Donald Trump favoreceu o governo de Pequim, que procurou ocupar os espaços deixados pelo norte-americano. Aqui no Brasil a pressão contra a Huawei fez a empresa se tornar conhecida e seus méritos admirados até pelos concorrentes.

Os filhos do presidente Bolsonaro e o ex-chanceler não puderam com palavras, piadas e insinuações grosseiras evitar que o chinês chegasse mais perto de seus objetivos. Os norte-americanos abandonaram a América do Sul e a China faz a festa no Brasil, na Argentina e nos países do Pacífico.

O caminho do rápido desenvolvimento é o investimento maciço em educação e pesquisa é a trilha para alcançar o adversário.

Essas considerações passam longe das atuais preocupações do governo Bolsonaro. O presidente enxerga fantasmas em todos os lados. Acorda cedo, dorme pouco, e se preocupa em estar presente em todos os momentos críticos de sua gestão. Não dispensa uma aglomeração. Não há planejamento.

A execução da articulação política é lamentável. Em pouco tempo, a oposição montou como bem entendeu a Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar desvios de conduta no combate ao vírus. O governo não conseguiu estabelecer sua linha de defesa. Recorreu aos tribunais duas vezes. E duas vezes perdeu.

Não é função do Senado aprovar impeachment. É tarefa da Câmara dos Deputados. Mas os senadores terão a oportunidade de chacoalhar o governo em várias direções e paralisar uma administração que já se arrastava em campo.

O desastre do orçamento permite situações como a do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, determinar que o governo execute o censo demográfico, que é obrigação constitucional. As derrotas se sobrepõem, umas sobre as outras. Quanto mais fraco o governo for, melhor será para o centrão, o grupo de parlamentares que apoia a atual administração. O preço se eleva.

A CPI tem prazo, que pode ser prorrogado várias vezes. Será o centro das atenções ao longo do ano. Ao lado disso, vão florescer os entendimentos para a montagem das chapas à sucessão de Bolsonaro. Ele não assinou ficha de qualquer partido político. Lula vive situação jurídica precária. Tudo pode mudar em função do humor dos juízes.

E Ciro Gomes caminha para o centro, velozmente, apoiado, agora, por marqueteiro competente. Desta confusão de ações e reações surgirão as candidaturas. O governo caminha para chegar ao final com menor capital político. E Paulo Guedes percebe que sua teoria econômica se tornou anacrônica nos Estados Unidos.

O que acontece no centro do Império costuma repercutir muito na periferia. Cedo ou tarde. O próximo presidente brasileiro deverá replicar aqui o que acontece agora em Washington.

André Gustavo Stumpf escreve no https://capitalpolitico.com/

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?