João Campos, o predestinado (por Aníbal Costa)
No Recife, não falta quem fale que João Campos nasceu talhado para realizar os sonhos de Arraes e de Eduardo
atualizado
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Ao ser reeleito para a prefeitura do Recife com 78,11% dos votos válidos, João Henrique de Andrade Lima Campos (PSB) não cruzou a linha de chegada, encerrando uma corrida eleitoral. Em vez disso, ele largou para uma nova maratona, desta vez rumo ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, onde pontificaram seu bisavô, Miguel Arraes (1915 – 2005) e seu pai Eduardo Campos (1965 – 2014).
Isso não ocorre por ambição desmedida, como pode parecer à primeira vista, mas por imposição da própria dinâmica politica em um estado onde as disputas nunca cessam, alheias ao calendário eleitoral. Por mais que negue, João Campos não consegue impedir que cada ato praticado como prefeito reeleito e cada movimento que realizar como dirigente nacional do PSB seja interpretado como preparatório para o embate inevitável com a atual governadora, Raquel Lyra (PSDB), previsto para outubro de 2026.
Na verdade, o embate já começou ao longo desta campanha. A governadora foi às ruas, à televisão e subiu em palanques no estado inteiro, defendendo candidatos e candidatas contra filiados ao PSB. João Campos também patrocinou candidatos e emprestou sua imagem para reforçar campanhas de aliados, do sertão ao cais.
Exemplar destes embates foi o travado de Olinda, município vizinho do Recife, onde Vinicius Castello (PT, que obteve 38,75% dos votos) e Mirella Almeida (PSD, com 30,03%) vão ao segundo turno, ele apoiado pelo prefeito e ela, pela governadora. Curiosamente, o PSB – partido de João Campos – e o PSDB – partido de Raquel – elegeram cada um 32 prefeitos.
É claro que este empate vale pouco quando se leva em conta a vitória de João no Recife, cidade que reúne 17% do eleitorado do estado. Outro detalhe significativo da vantagem que João Campos leva na partida: o candidato do PSDB de Raquel, o ex-deputado federal e ex-secretário de turismo Daniel Coelho foi o quarto colocado na eleição da capital, obtendo apenas 3,21% dos votos.
Em sua campanha para prefeito, João Campos procurou conquistar novos parceiros políticos – como o Republicanos do ministro dos Portos e Aeroportos Silvio Costa Filho – e trabalhou para recompor laços com aliados desgarrados, caso da prima Marília Arraes (Sol), adversária no segundo turno de 2020 e presença marcante nos eventos mais importantes da campanha de 2024.
Mas a operação mais delicada e conduzida com impressionante habilidade pelo prefeito foi a inserção do PT em sua coligação, sem, contudo, ceder a vaga de vice na chapa majoritária, reivindicada por petistas ilustres, como o ex-deputado federal Mozart Sales. E mais: João Campos neutralizou a pré-candidatura do ex-prefeito João Paulo filiando ao PCdoB seu chefe de gabinete na Prefeitura, Victor Marques, que se tornou candidato a vice-prefeito e peça fundamental para que ele possa ele deixar a prefeitura em abril de 2026, para concorrer ao governo.
Obviamente, os dois movimentos só foram possíveis graças ao apoio do presidente Lula, que mandou ao Recife a presidente nacional petista, Gleisi Hoffman, para participar do evento no qual o acordo político foi formalizado e Victor Marques confirmado como vice
No Recife, não falta quem fale que João Campos nasceu talhado para realizar os sonhos de Arraes e de Eduardo. Sendo que, para isso, uma etapa fundamental é a conquista do governo do estado em 2026, numa campanha que, admita-se ou não, já está em marcha.