Inteligência artificial e as mudanças climáticas (por Felipe Sampaio)
O maior perigo já enfrentado pela humanidade e a tecnologia mais avançada já desenvolvida pela ciência
atualizado
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Tornou-se um caminho sem volta o desenvolvimento de aplicações da inteligência artificial para a medição, o mapeamento e o enfrentamento dos efeitos do aquecimento global. Imagine reunir em um mesmo campo de pesquisas o maior perigo já enfrentado pela humanidade e a tecnologia mais avançada já desenvolvida pela ciência. É o que começa a acontecer em todas as frentes de ação econômica, governamental e acadêmica mundo afora.
Curioso é que ainda não é possível saber quais serão os desdobramentos finais tanto da evolução da mudança climática, quanto da evolução da IA, por se tratarem em ambos os casos de processos caóticos (constituídos por incontáveis variáveis que geram infinitas possibilidades de desfecho).
Por isso mesmo estamos diante do maior laboratório de produção de conhecimento da história. A capacidade colossal de autoaprendizado da inteligência artificial (machine learning), ao ser alimentada pela infinidade de dados coletados sobre as causas, os avanços e os efeitos das dinâmicas climáticas, vai produzir um volume de informações que poderá mudar a maneira como definimos e lidamos com a vida, a natureza e a sociedade. Isso abrange desde as políticas e os negócios que envolvem moradia, transporte, saúde, segurança e alimentação até os modelos de Estado, soberania, economia e geopolítica.
De olho nessas possibilidades até a Organização das Nações Unidas anunciou em outubro de 2023 a criação de um órgão próprio de assessoramento sobre a inteligência artificial e “sua importância para encontrar soluções para os principais desafios comuns da humanidade”. Um dos focos de atuação dessa ‘ONU IA’ é justamente a mudança climática.
Ao mesmo tempo, a OMM – Organização Meteorológica Mundial, já aponta que a aprendizagem de máquina “oferece uma capacidade inédita para processar enormes volumes de dados […] que possibilita uma melhor modelização e previsão de padrões de alterações climáticas que podem ajudar as comunidades e as autoridades a elaborar estratégias eficazes de adaptação e mitigação”.
Não foi à toa que desde a COP-26, em 2021, pesquisadores europeus e norte-americanos recomendavam que os governos incorporassem especialistas em IA nas suas equipes e comitês que tratam da mudança climática no relatório “Inteligência Artificial na Luta Contra a Mudança Climática”, no qual.
As utilidades da IA no campo da mudança climática podem ir desde finalidades mais óbvias como a previsão de desastres ambientais ou de cenários para a produção agrícola até os usos mais sofisticados e inovadores, como a realização de cálculos avançados do sistema financeiro para seguros e investimentos ou também de simulações de impactos climáticos sobre os sistemas naturais de sustentação da vida no planeta, ou até mesmo para o planejamento de ações militares decorrentes das dinâmicas climáticas transfronteiriças.
Seja como for, a inteligência artificial com seus poderosos recursos de machine learning, possibilitando a pré-visualização dos cenários distópicos de alta complexidade que nos aguardam, proporciona uma janela de esperança para que as autoridades e as empresas tomem consciência de que o caos climático prejudicará a todos, ricos e pobres, em escala descomunal, mesmo que a princípio achemos que só as populações mais vulneráveis serão afetadas. É o que António Guterres, secretário-geral da ONU quis dizer quando se referiu à “iminência de uma extinção em massa”.
Felipe Sampaio: cofundador do Centro Soberania e Clima; chefiou as assessorias dos ministros da Defesa e da Segurança Pública; dirigiu o SINESP no ministério da Justiça; foi secretário executivo de segurança urbana do Recife; é assessor no ministério do Empreendedorismo.