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Inocentes condenados (por Eduardo Fernandez Silva)

Neste planeta há estimados dois bilhões de animais humanos com idade menor que 10 anos

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Neste planeta há estimados dois bilhões de animais humanos com idade menor que 10 anos, e cerca de 650 milhões que ainda não fizeram o sexto aniversário. Todos eles são inocentes. Inocentes, e condenados!

É triste saber que meus filhos e netos, assim como os dos leitores, estão condenados, mesmo sendo inocentes. Condenados a quê? Inocentes de quê?

Nesse subconjunto da humanidade estão pessoas que, em sua maioria, estarão vivas no ano 2100, quando terão menos de 90 anos. Claro, muitos terão morrido, mas a maioria ainda estará viva, salvo alguma possível – provável? – guerra nuclear. Afinal, o aumento da expectativa de vida é um dos feitos positivos da humanidade. E os ainda estiverem vivos, em que mundo viverão?

No Brasil de hoje, do Sudeste ao Norte, estamos respirando ar seco, poluidíssimo, cheio de gases venenosos, agravado pela fumaça de incêndios, alguns dos quais criminosos, feitos em nome do progresso, em nome de abrir áreas para aumentar a produção de alimentos! Estamos vendo também a quase totalidade deste país, e de muitos outros, sob ameaça de mais incêndios queimando árvores que deveriam viver para reter água para nossa sobrevivência. Mas, em nome do “progresso”, continuamos a degradar a biosfera, a base da nossa sobrevivência.

Hoje, a Organização Mundial da Saúde estima em sete milhões as mortes, a cada ano, decorrentes “apenas” da poluição do ar. Quantas serão dentro de vinte, cinquenta anos, se seguirmos acreditando que explorar e queimar petróleo trás riqueza? É fato que quando tal queima começou, há quase dois séculos, ela ajudou a melhorar a vida de muitos, mas continuar a usá-lo passou a piorar e a condenar a vida de muitos mais, inclusive aqueles que hoje são crianças. Não é novidade comparar os combustíveis fósseis às drogas: euforia nos primeiros usos, morte quando se torna dependente!

Não são só os incêndios que preocupam, e matam. Há pouco, vimos o Rio Grande do Sul devastado por enchentes e, na Arábia Saudita, estimados 1.300 fiéis morreram em poucos dias, em decorrência do calor extremo, que afeta inúmeras regiões do planeta.

A rapidez com que aumenta a frequência e a gravidade dos desastres derivados dos extremos climáticos assusta até mesmo os cientistas, pois sua progressão tem se mostrado mais veloz e grave que as previsões. Nessa aceleração, já se aceita que o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5oC já não é mais viável, acréscimos bem maiores sendo prováveis. Com eventos ainda mais extremos, e sofrimentos maiores.

Daí a se concluir que, embora nossos filhos e netos sejam inocentes, pois nós é que decidimos por eles, somos nós, e principalmente os dirigentes de países e empresas que, ao insistir em manter nosso modo de vida poluente e insustentável, os estamos condenando a vidas bem mais difíceis.

Trata-se de uma nova versão de holocausto e genocídio, realizado a cada dia de forma mais acelerada, em nome do “desenvolvimento”.

Espécie humana, se és sapiens, acorda e age!

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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