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Ilusões coletivas (por Eduardo Fernandez Silva)

Análises sobre economia, notícias sobre o que rola no mundo não escondem o tom de alegria ao anunciar o tal “crescimento”

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1 de 1 Dinheiro, Economia, Bolsa de Valores, Real, aumento, Baixa, money, gráficos, divida, pago, bancopoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Na COP27, são mais de 400 jatinhos – tão poluentes que alguns países já discutem bani-los – reunidos para discutir como reduzir a poluição! Ilusão? Ou trata-se de reduzir a poluição dos outros, não a nossa?

A Petrobrás, a Shell, a BP e tantas outras iludem-nos dizendo aumentar a produção de petróleo, e quase todos celebram!!! Ilusão, pois jamais qualquer delas produziu um barril sequer; todas apenas extraem o poluente fóssil!

Fomos iludidos a crer que “mais” é melhor! Análises sobre economia, notícias sobre o que rola no mundo não escondem o tom de alegria ao anunciar “crescimento”. Este o nome do novo Deus: cresceu? Viva! Não cresceu? O dó! Iniciada na segunda metade do século passado, essa ilusão precisa ser descartada! Afinal, “mais” pode, ou não, ser melhor!

Aqui no Brasil, na esperança de um governo que não nos envergonhe como o atual, discute-se como furar o teto sem furá-lo! Se a “despesa” é “boa”, ela não conta para o teto e podemos até chamá-la “investimento”. Por ruim que seja, isso é bem melhor que permanecer preso ao ilusório mantra da necessidade de cortar gastos com a saúde, a educação, a ciência e com os salários! A opção real, não ilusória, é elevar impostos sobre o 1% mais rico para minorar o drama dos 60% miseráveis, garantindo responsabilidade fiscal! No Brasil, discutir essa alternativa é anátema, e um dos principais problemas nacionais – as desigualdades – segue não enfrentado!

O nervoso “mercado” usa a “novilíngua” e “aplicação financeira” passou a ser chamada de “investimento”. Em economês, “investimento” é aumento de capacidade produtiva, não a busca de rendas financeiras! Hoje, assim como se adora o PIB, adula-se os ditos “investidores”, que especulam com notícias e buscam – além dos ganhos monetários – balizar o debate público, garantindo que o enfrentamento real dos problemas igualmente reais seja postergado, mantendo-se o suicida curso atual.

Na COP27, um dos temas em debate é a captura de carbono, tecnologia que hoje ainda é apenas uma miragem, uma possibilidade! Discute-se também as “perdas e danos”, a compensação dos ricos causadores das mudanças climáticas aos pobres sofredores das mesmas alterações ambientais, na ilusão de que os ricos eventualmente cumprirão promessas já descumpridas tantas vezes!

Enquanto isso, voam os jatinhos e perfura-se mais em busca de mais e mais veneno a ser lançado na atmosfera, ignorando-se que mais de um holocausto – isto é, seis milhões de mortos – ocorre a cada ano em razão da poluição atmosférica.

É verdade que nos últimos séculos houve melhorias em algumas condições de vida: mortalidade infantil e longevidade, entre outras. Mas é verdade também que ocorreram degradações, inclusive na saúde mental de grande número e no aumento nas mortes por desespero, e que 70% da população mundial vive com menos de US$10,00/dia!

Mantidas as ilusões e o curso atual, perderemos a chance de reverter a dupla degradação, a humana e a ambiental!

 

Eduardo Fernandez Silva. Mestre em Economia. Ex-diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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