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Feliz Nova Década, Brasil (por Cristovam Buarque)

É esperançoso ouvir o novo presidente dizer que foi eleito para reduzir a desigualdade social

atualizado

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1 de 1 desigualdade - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Neste momento, em que iniciamos um novo tempo, é esperançoso ouvir o novo presidente dizer que foi eleito para reduzir a desigualdade social; e vê-lo chorar no instante em que se refere aos que ficam nas esquinas pedindo ajuda para comer. Desejo que nesta década o país saia do mapa da fome para não voltar e enfrente o problema estrutural da desnutrição, ao lado da abundância e do desperdício.Para isto, desejo o Brasil entender que a mãe da desigualdade social está na desigualdade educacional.

Que, ao longo da próxima década, implantemos um sistema público de educação para nossas crianças, todas elas; nenhum talento desperdiçado por falta de escola com a máxima e mesma qualidade para cada uma delas, independente da renda e do endereço da família.

A população educada aumentará a riqueza nacional e fará a distribuição entre todos, não apenas para uma minoria privilegiada.

Para tanto, recuperemos e inspiremos confiança graças à responsabilidade como trataremos nossos recursos humanos, naturais e fiscais. Não usando mais do que é sustentável nas florestas, rios e finanças; e formando o maior de nossos recursos: o talento de cada brasileiro. Ao cuidarmos de nossos recursos, adquirirmos e passarmos confiança, teremos o futuro que desejamos e é possível, se tivermos uma década que aproveite a força e o equilíbrio da democracia.

Desejo que o Brasil não relaxe na prática da democracia e no respeito às nossas instituições. Para tanto, que a democracia não se suicide pela tentação autoritária, nem pelos devaneios corporativos, nem pela depredação de nossos recursos: nossas florestas derrubadas, nossas finanças desrespeitadas, nossos cérebros incinerados por falta de escola na hora certa. Neste primeiro ano depois do bicentenário,

desejo que a democracia não seja sequestrada por militares sem consciência de que as armas devem ser submissas às urnas; nem por civis sem patriotismo que submetem o país aos interesses de classes.

Desejo que o talento beneficie cada um conforme o esforço e a vocação, mas sem beneficiar-se por vantagens contrárias aos interesses nacionais, nem às necessidades das camadas mais pobres. Que o Estado não restrinja o talento, nem o esforço de cada um, nem o empreendedorismo que aumenta o produto social do país; nem que esta riqueza se mantenha a concentrada, beneficiando a poucos, como tem sido nas 52 décadas passadas de nossa história; e que nossas organizações estatais sejam eficientes, sem privilégios, nem mordomias para seus dirigentes. Que o futuro se recuse a manter privilégios injustos das elites dirigentes, e respeite os direitos e tradições dos povos originários.

Desejo que o governo que se inicia cumpra as esperanças com que foi eleito. E o país vença ao reacionarismo, ao negacionismo, aos preconceitos, ao anti-humanismo disfarçado de patriotismo, ao corporativismo disfarçado de democracia e ao populismo disfarçado de popular.

Feliz Nova Década, Brasil, e que, depois desta, estes desejos fiquem desnecessários, por terem sido atendidos.

Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador

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