EUA, democracia ou plutocracia? (Por Domingos Lopes)
Sem os milhares de milhões dos donativos aos candidatos não haveria a tal “democracia” a encher as telas de todo o mundo
atualizado
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As eleições presidenciais ganhas por Donald Trump merecem uma reflexão mais aprofundada do que a ridicularia do alarido a roçar o servilismo em torno da chamada maior democracia do mundo. Horas e dias de emissão, engalanadas com os epítetos descabidos, a propósito do ato eleitoral.
É necessário encontrar as explicações para fazer luz sobre o grau de degenerescência a que chegou o sistema político dos EUA, no sentido de que os candidatos presidenciais revelavam sinais altamente comprometedores da sua idoneidade: Biden, um zumbi, perdido entre os seus homens e suas mulheres sem as faculdades mentais exigidas para o cargo, ficando mais claro que existe um piloto automático no governo do país; Trump, um fanfarrão multibilionário que encara a democracia como um negócio imobiliário para dar big money aos donos do money e que, ao que tudo indica, tornou o Partido Republicano num Partido de Trumpistas.
Biden, movendo-se numa redoma para esconder a sua incapacidade mental, teve de largar o encargo por total ineptidão. Descobriram uma candidata que era um espelho da Presidência de Biden, sem rasgo e que passou o tempo a responder às provocações de Trump, onde ele é imbatível. O sistema dos EUA parece ter chegado a um ponto de esgotamento – já só é capaz de reproduzir personagens como Trump/Biden/Kamala. Será que não dá mais? Kamala representava a continuidade de uma política de afastamento da realidade vivida pelas populações. A economia estava bem, mas as pessoas não sentiam, antes pelo contrário, viviam pior.
Trump é figura de um multimilionário ignorante, boçal, apreciado numa parte da América, a do big money. E que soube cativar uma considerável parte dos EUA que nele se aceitam rever, mesmo que a contragosto nalguns setores. Trump foi direto ao assunto, dar melhor vida aos norte-americanos, independentemente da demagogia.
Sem os milhares de milhões dos donativos aos candidatos não haveria a tal “democracia” a encher os ecrãs de todo o mundo à custa de publicidade paga. Voltamos à velha Atenas, ao governo dos plutocratas. Basta atentar que no dia a seguir às eleições Elon Musk aumentou a sua fortuna em 26.500milhões de dólares e os dez mais ricos em 64.000 milhões, de acordo com o Le Huffpost.
Os EUA são, neste momento, na essência do sistema, uma plutocracia, um governo dos multibilionários que governam para os super-ricos. Aliás, só chega a presidente quem for imensamente rico e apoiado pelos muito ricos.
De acordo com um estudo publicado neste jornal, vale a pena ter presente que há 36.800 milhões de pobres no país, 1.808.100 presos (o maior número no mundo), não há serviço nacional de saúde, 1% da população detém 26% da riqueza total, gasta mais na defesa do que os nove países que se lhe seguem por ordem decrescente. Tem em percentagem menos alunos até ao 12.º ano que Portugal. A dívida pública dos EUA é de 34,62 triliões de dólares. É o país mais endividado do mundo.
Os EUA são um país em crise, a qual é escondida através do fato do dólar ser uma moeda de reserva e de pagamento no mundo. No dia em que o deixar de ser entram em bancarrota.
Trump representa para uma parte considerável dos EUA a possibilidade de sair da degradação em que se encontra em termos económicos e sociais. A Administração Biden/Harris foi tão má que os norte-americanos deitaram para trás das costas os quatros anos desastrosos de Trump. Preferiram eleger um homem com um cadastro tenebroso, que orientou uma sublevação contra vitória de Biden, que se vangloria de ordenar a deportação de milhões de imigrantes e de defender a utilização das forças armadas contra o que ele chama de inimigo interno. Sejamos claros: os norte-americanos conheciam Trump e deram-lhe a vitória com uma percentagem maior que há oito anos.
Trump aparece como escape para a perda de poder de atração do país. Pretende ressuscitar o que está morto e enterrado. Os EUA estão em crise em quase todos os domínios. Que produzem hoje os EUA? Em que indústrias lideram? A sua indústria perdeu competitividade. Resta-lhe Wall Street, o mundo da economia de casino, os multibilionários que são cada vez mais ricos e os trabalhadores e a classe média cada vez mais afundados. Vamos ver se a UE continua a sua submissão aos EUA, com um político desta estirpe.
O mundo vai enfrentar um homem a quem os norte-americanos deram um poder invulgar: maioria no voto popular e no Senado. Junte-se-lhe a maioria no Supremo Tribunal Federal, o que dá arrepios. Mas atenção, antes dele, outros, como ele, um pouco por todo o mundo, chegaram ao poder e, apesar do sofrimento causado, acabaram por ser derrotados. Há sofrimentos que se não desejavam, é verdade, mas há sempre uma parte da humanidade lúcida. Todos os dias o sol nasce, mesmo com Trump.
(Transcrito do PÚBLICO)