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Estudo explora relação entre redes sociais e solidão (Karla Pequenino)

O cérebro humano evoluiu para sentir conexão social quando os outros estão fisicamente presentes

atualizado

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1 de 1 rede social - Foto: Witthaya Prasongsin/ Getty Images

Quanto mais tempo as pessoas passam ligadas a redes online, como o Facebook, o TikTok, o Reddit e o YouTube, mais sós se sentem – mesmo que mantenham relações sociais satisfatórias fora da Internet e interajam com várias pessoas. Esta é uma das conclusões do estudo Solidão e as Redes Sociais, conduzido em Portugal pelo Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA) e pelo Observatório Social da Fundação La Caixa.

A missão: perceber a prevalência de sentimentos de solidão num mundo “apinhado” em que se torna cada vez mais fácil contactar com outras pessoas através da esfera digital. Sem acompanhamento, a solidão torna-se um “fator de risco para distúrbios mentais, doenças físicas e mortalidade precoce”, realçam os investigadores.

“Os utilizadores de redes sociais não estão mais protegidos de sentimentos de solidão e, inclusivamente, até estão mais em risco de se sentirem sós, principalmente se a utilização for muito frequente e compulsiva”, explica ao PÚBLICO o investigador Rui Miguel Costa, que é um dos autores do trabalho do Centro de Investigação William James, no ISPA. “É válido dizer que, em média, as pessoas que utilizam as redes sociais estão mais sós.”

Os resultados baseiam-se em inquéritos online respondidos por cinco mil participantes portugueses. A amostra final inclui uma proporção de participantes semelhante à população portuguesa em termos de sexo, idade e área de residência. Apenas 218 (4,4%) das pessoas inquiridas não utilizavam algum tipo de rede social.

O nível de solidão foi avaliado com base na Escala de Solidão da Universidade de Los Angeles (UCLA – Loneliness Scale), desenvolvida nos anos 1990 para avaliar a frequência com que uma pessoa se sente “desligada” de outros com base em 20 questões, como “Com que frequência se sente excluído?” ou “Com que frequência se sente parte de um grupo de amigos?”

Além das tradicionais redes, como o Facebook ou o Instagram, os investigadores consideraram plataformas de trabalho, como o Linkedin, fóruns online como o Reddit, sites de partilha de vídeos e canais de mensagens.

“Todas têm em comum pôr em contacto um grupo de pessoas que assim podem comunicar entre si. São precisamente algumas características desta comunicação que poderão levar à solidão”, justifica Rui Miguel Costa. “Mais do que uma rede social em particular, são as características da utilização que podem levar à solidão”, continua o especialista. “Por exemplo, muita exposição a conteúdos que levam a pessoa a sentir-se inferior, ou então uma grande ânsia de ter uma atenção por parte de outros nas redes sociais que nunca chega.”

As próprias características da comunicação online, como a falta de contacto físico, também são relevantes. “O cérebro humano evoluiu para sentir conexão social quando os outros estão fisicamente presentes; por isso a comunicação via ecrãs nunca preencherá totalmente a nossa necessidade de afiliação”, teoriza o investigador do ISPA. “Um grupo só pode ajudar na sobrevivência dos seus membros se estes estiverem fisicamente presentes. Tal como o medo evoluiu para nos afastar do perigo, a solidão evoluiu para nos motivar a estar junto de outros”, continua Rui Miguel Costa. “Com a comunicação por ecrãs, o sinal de alarme da solidão continua a tocar.”

Trecho de reportagem publicada no PÚBLICO – https://www.publico.pt/2023/06/08/tecnologia/noticia/tao-sos-estudo-portugues-explora-relacao-redes-sociais-solidao-2052680

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