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Ensino integral já faz diferença (Por Hubert Alquéres)

É necessária uma escola de tempo integral, palco de um ensino holístico, em sintonia com um conjunto de políticas públicas

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Sala de aula
1 de 1 Sala de aula - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Nem só de notícias ruins vive a Educação brasileira. Existem boas ações acontecendo. Uma delas é a disseminação, de forma sustentada, do ensino integral. Já há evidências científicas comprovando o impacto positivo dessa expansão na qualidade do ensino básico.

Exemplo emblemático é Pernambuco, estado pioneiro em transformar esse tipo de ensino em política pública. Hoje 55% de suas escolas do ensino médio são de tempo integral. Em uma década o Estado pulou da 22ª posição no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb – para o terceiro lugar.

Pernambuco não é um caso isolado. Outros estados, como Ceará e Paraíba, também apostaram fortemente na modalidade e agora colhem os frutos. A onda ganhou tração nos últimos cinco anos, quando 18 dos 27 estados brasileiros aumentaram em 30% ou mais suas escolas de tempo integral.

Para se ter uma ideia da velocidade dessa mudança: em 2010 apenas 1% das escolas do ensino médio do país eram em tempo integral. Uma década depois o índice saltou para 12%. Hoje a participação é bem maior porque houve uma forte expansão nos últimos dois anos, principalmente em São Paulo e Minas Gerais, estados com uma vasta rede escolar.

Em alguns casos o salto, em um curto período, foi extraordinário. Inicialmente retardatário na adoção do ensino integral, São Paulo tinha em 2018 apenas 364 escolas integrais – 6% da rede. O estado comia poeira em relação ao desempenho robusto de outros estados.

Na gestão João Doria/Rodrigo Garcia a expansão foi expressiva, saltando para 2.050 escolas – 40% do total. Em termos de número de alunos, o pulo também foi extraordinário nos últimos três anos: de 115 mil para 1,1 milhão de matrículas. Ou seja, a quantidade de escolas de tempo integral cresceu cinco vezes e o de alunos oito vezes.

A ampliação do tempo de aprendizagem é essencial para diminuir a defasagem entre o ensino brasileiro e o das nações desenvolvidas. Nos países com melhor desempenho no sistema internacional de avaliação – PISA –  a jornada escolar diária é de sete horas ou mais, enquanto a brasileira é de quatro horas. Com o ensino integral essa diferença desaparece. Em São Paulo, por exemplo, 62% das escolas participantes do programa têm jornada escolar de nove horas de aulas a cada dia e 38% de sete horas.

Os ganhos são evidentes quando se leva em consideração os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2019. Enquanto a média das escolas de tempo parcial foi de 4 pontos em 10, a das integrais chegou a 4,7 pontos, superando a meta do Plano Nacional de Educação para essa etapa do ensino. Entre 2017 e 2019, as escolas no modelo parcial cresceram 9,7% no Ideb, enquanto as que migraram para o integral melhoraram 17,3%. Não é à toa que as escolas paulistas melhores ranqueadas no mesmo Ideb sejam as de ensino integral, tendo batido as metas estabelecidas.

A grande diferença é, de fato, na aprendizagem do aluno. Estima-se que um ano de português e matemática em ensino integral seja equivalente a três anos de uma escola com cinco horas de aula. Isso tem impacto direto no acesso ao ensino superior e ao mercado de trabalho.

Um estudo do Instituto Sonho Grande, com alunos de escolas integrais em Pernambuco, mostrou que a possibilidade de ingresso deles no ensino superior é 17 pontos maior (63% contra 46% das escolas parciais). O mesmo instituto estimou um aumento de 18% na renda média dos egressos.

Mais do que o ensino integral é necessária uma escola de tempo integral, palco de um ensino holístico, em sintonia com um conjunto de políticas públicas, nas quais o ensino integral é um de seus esteios, mas não o elixir miraculoso para todos os males da educação. Para lograr êxito tem de estar associado à nova Base Nacional Curricular Comum e ao Novo Ensino Médio, adequada, assim, às novas exigências e responsabilidades da educação do século 21.

Hoje, a educação tem de ofertar um ensino de forte conteúdo acadêmico, mas também profissionalizante, além de desenvolver nos alunos habilidades socioemocionais, como autonomia, pensamento crítico, espírito colaborativo e de liderança. Evidente, isso requer mais horas do aluno no ambiente escolar. Mas isso não basta. É necessário uma escola integral, com instalações adequadas, professores motivados e bem remunerados, suporte tecnológico e acadêmico.

É reconfortante o fato de, em São Paulo, 93% dos professores do ensino integral apoiarem entusiasticamente o programa. Estudos do Instituto Natura demonstram o forte apoio de alunos e de seus pais onde a escola de tempo integral se massificou. Até por um efeito colateral positivo, a diminuição da violência. Quanto mais tempo o adolescente fica na escola, menor ficará exposto à ação do crime organizado. E maiores as possibilidades de romper o ciclo da pobreza, seja pela via do acesso ao ensino superior seja pelo ingresso no mercado de trabalho.

Sim, o Brasil avançou muito em uma década, mas ainda há um longo caminho pela frente. O país está longe de alcançar a meta, estabelecida para 2024, de ofertar ensino integral em 50% das escolas públicas, abrangendo 25% das matrículas. Alguns estados estabeleceram seus objetivos. O Ceará pretende universalizar a iniciativa até 2026.

É um caminho sem volta. Em São Paulo o objetivo do Estado é universalizar o ensino médio integral em 3 anos. A meta será perseguida, a despeito de resistências corporativas ou de motivações políticas menores.

 

Hubert Alquéres é Secretário de Educação do estado de São Paulo e membro da Academia Paulista de Educação

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