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Elon Musk, vice-presidente dos EUA (Por David Pontes)

Não é possível deixar de olhar com algum cinismo a ideia de que Trump vence ao dar voz aos desapossados pelas elites

atualizado

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1 de 1 Imagem colorida de Trump e Musk - Metrópoles - Foto: Anna Moneymaker/Getty Images

Na ressaca das eleições norte-americanas de 2016, a rede social mais falada foi o Facebook. O mundo acordava para a influência subterrânea que as redes podiam ter nas democracias, especialmente pela forma como a rede de Mark Zuckerberg tinha servido de veículo para interferência russa, ajudando Donald Trump a vencer.

Oito anos depois, não poderíamos estar mais longe desse espanto inicial com que entramos na era da “pós-verdade”. Como escreve Carole Cadwallader, jornalista do The Guardian que desvendou os segredos da Cambridge Analytica, “2016 foi o começo do começo”. Depois disso, algumas redes, como o Facebook, diminuíram a propagação de conteúdos políticos (apagando os “media” pelo caminho), a direita contra-atacou as tentativas de regulação com o argumento da “liberdade de expressão” e o X ergueu-se como o megafone de que Trump precisava para a sua reeleição.

Hoje não é preciso procurar influências encobertas. Elas são completamente visíveis na forma como o proprietário desta rede, Elon Musk, a colocou ao serviço do candidato republicano de que ele é o primeiro arauto. Só entre os dias 5 e 7 de novembro, fez mais de 400 publicações saudando a sua vitória e dando indicações sobre o futuro. Doou para a campanha pelo menos 119 milhões de dólares e transformou a própria eleição numa loteria, oferecendo um milhão por dia aos eleitores que aderissem a alguns princípios do ideário de Trump.

Não é possível deixar de olhar com algum cinismo a ideia de que Trump vence ao dar voz aos desapossados pelas elites, quando o homem mais rico do mundo se ergue como um dos seus mais poderosos aliados e, quem sabe, um dos seus principais conselheiros.

Também não vale a pena assumir a posição de virgem ofendida quando sabemos que os ricos e poderosos sempre procuraram influenciar em seu proveito os caminhos da política. Agora, foi só mais descarado e com novas e mais influentes ferramentas. Um dia após a vitória de Trump, graças à subida das acções da Tesla, Musk adicionou quase 20 mil milhões de dólares à sua fortuna. Seja por contratos federais que esperará ganhar, seja graças à desregulação que quer ver em vários sectores onde tem interesses, Musk irá ter muitos mais milhões a arrecadar.

O que vale mesmo a pena sublinhar é que não será só Trump a ser imitado em todo o mundo. Com Musk, abriu-se uma nova era para a capacidade que os super-ricos têm para influenciar os destinos da política e da sociedade. As democracias que se cuidem.

 

(Transcrito do PÚBLICO)

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