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Eleições municipais, um museu de grandes novidades (por Felipe Sampaio

Cazuza sabia que, em um país onde 180 milhões de pessoas vivem em cidades, “o tempo não para”

atualizado

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1 de 1 Urna eletrônica - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Foi-se o tempo em que a expressão ‘zeladoria urbana’ resumia as funções da prefeitura. Essa visão reflete um pensamento careta das classes A e B. Aquela turma que desfruta da melhor paisagem no melhor asfalto da cidade. O prefeito não é o síndico da cidade.

Pretendentes ao emprego de prefeito têm este ano, outra vez, a oportunidade de ouvir e sugerir planos e soluções para tudo aquilo que a sociedade está cansada de reivindicar (aproveitando pra lembrar que sociedade, nesse caso, inclui a maioria pobre, a maioria negra e a maioria mulher…).

Porém, sejamos francos, se pudéssemos perguntar hoje ao genial Cazuza o que ele espera das próximas gestões municipais, era bem capaz de ele responder “Eu vejo o futuro repetir o passado”, porque continuamos fazendo as coisas do mesmo jeito.

Por exemplo, a distribuição territorial das políticas públicas (e sua qualidade) nas cidades ainda segue o farol dos grandes negócios imobiliários. E o automóvel individual ainda é o sujeito dominante nesse modelo de urbanismo. Nada de novo sobre saneamento, espaços de convivência, áreas de risco, mobilidade, governança participativa, saúde, segurança, trabalho, desenvolvimento, resiliência climática etc.

Acontece que, para a maior parte dos moradores, o eixo fundante da vida urbana segue sem resposta: o ‘direito à cidade’. Dito de forma mais profunda, cadê o ‘direito ao Estado’? Seguindo nesse sentido, vamos acabar chegando a uma redação radical (ou vexatória) para a questão: o ‘direito ao próprio direito’.

Ou seja, os futuros prefeitos (por não serem meros síndicos da cidade), em prefeituras que não são meras zeladoras dos bairros ricos, precisarão começar respondendo a uma pergunta tão crucial quanto antiga: Na sua cidade, quem você acredita que mereça o ‘direito a ter direitos’?

Como se não bastasse, acrescente-se dois complicadores para o sucesso dos futuros prefeitos. O primeiro, e mais intrigante, é curarem-se dessa ilusão (endêmica entre os políticos atuais) de que seus selfies e likes são a expressão mais legítima e suficiente da gestão pública moderna. O segundo, é a verdade incontornável de que as mudanças climáticas galopantes já chegaram, para bagunçar geral a vida urbana desde Nova York até Bacurau.

Nesse cenário, mais do que nunca, os prefeitos e suas equipes devem ser os incentivadores e mediadores do diálogo entre os diversos segmentos da população de todas as regiões da cidade. Um diálogo construído para a formulação, gestão e execução de planos de desenvolvimento urbano integrando todas as pastas da prefeitura.

Cazuza sabia que, em um país onde 180 milhões de pessoas vivem em cidades, “o tempo não para”.

 

Felipe Sampaio: foi secretário executivo de segurança urbana do Recife; cofundador do Centro Soberania e Clima; dirigiu o SINESP no ministério da justiça; chefiou as assessorias dos ministros da Defesa e da Segurança Pública.

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