Eleições municipais: cara(o)s pré-candidata(o)s (Eduardo Fernandez)
Faltam determinação e capacidade para resolver o problema dos resíduos sólidos
atualizado
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São quase seis mil municípios e milhares de candidatos às prefeituras e Câmaras municipais, em eleições que ocorrerão em 110 dias. Todos em campanha aberta, embora a hipócrita legislação brasileira obrigue chamá-los(as) pré-candidato(a)s. Detalhe? Não, definição profundamente danosa para a qualidade de vida dos munícipes.
Danosa porque não contribui para debater/detalhar o que pretendem fazer se eleitos. Orientam-se, os candidatos – perdão, os pré-candidatos! – por suas impressões e pré-conceitos, pelo que lhes dizem marqueteiros e pesquisas de opinião, e um pouco pelo que escutam em suas caminhadas. Nessas andanças, ouvem pedidos por vaga no hospital, dentadura, vaga na escola, tijolos para puxadinho, e outras urgências. Sobre o futuro e as necessidades dos filhos e netos daqueles eleitores pedintes, nada, ou quase nada.
Fosse o jogo mais claro – tipo “sou sim, desde hoje, candidato para as eleições de 2028”! – haveria possibilidade de mais debates sobre o que e como fazer. Com a ficção da pré-candidatura, nada disso, só o vote em mim porque sou melhor que o outro! E, nessa ficção, a população vai de mal a pior, alguma esperança hoje, decepção amanhã, sentimentos que se repetem.
No mundo, inúmeras cidades já se preparam, há anos, bem ou mal, para os impactos das mudanças climáticas; aqui, o assunto está ausente das companhas eleitorais; perdão novamente, das pré-campanhas! No dia 17/6/24, importante jornal divulga que 47% dos brasileiros evitam ler ou ouvir notícias; sem acompanhar (e ter meios de interpretar) os fatos e opiniões, como escolher dirigentes afinados com suas prioridades? O mesmo veículo afirma “já passa da hora de o Brasil implantar políticas para o tratamento de resíduos”.
Ora, está em vigor, desde 2010, a Lei de Resíduos Sólidos. Os prazos ali definidos, para terminar com os lixões, para ampliar a logística reversa, entre outros, vêm sendo adiados. Será que esses temas não deveriam ser assuntos de campanha eleitoral? Perdão novamente, de pré-campanha?
Só que, por mais que um prefeito e a câmara partilhem o objetivo de resolver o problema dos resíduos sólidos, falta-lhes capacidade para vencer o desafio, embora caiba-lhes a responsabilidade legal para tanto. Faltam-lhes meios para pressionar produtores a cumprir metas de reciclagem, para educar a população, para vencer as quadrilhas que se instalaram na coleta, transporte e destinação dos resíduos, entre outros. Carecem, também, de conhecimento de experiências bem-sucedidas, como a que transformou Taiwan de “ilha do lixo” num exemplo mundial no trato de resíduos.
No Brasil, só um Governo Federal determinado a resolver tal problema seria capaz de coordenar/educar/motivar/premiar/fiscalizar/responsabilizar/punir e vencer, melhorando muito a qualidade de vida da população. Faltam, porém, determinação e capacidade de superar os interesses que se instalaram em meio à sujeira geral.
Eduardo Fernandez Silva, é ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados