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Elas brilharam (por Mary Zaidan)

O mais provável é que nem Bolsonaro nem Lula terão coragem de participar de outros debates

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TV Band/Divulgação
lula e soraya thronicke
1 de 1 lula e soraya thronicke - Foto: TV Band/Divulgação

Debate anima torcidas. Dificilmente muda ou agrega votos. Mas neste domingo vimos pelo menos dois ineditismos: os líderes nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, não foram as estrelas da noite, e as mulheres – candidatas, jornalistas e a própria temática feminina – dominaram. Elas deram um banho.

Simone Tebet largou na frente. Respondendo a uma questão sobre a pandemia, disparou o primeiro petardo: “Não vi o presidente da República pegar a moto dele e visitar um único hospital”. Mais tarde, apontou que o capitão já defendeu estuprador e torturador.

Foi aí que Bolsonaro lançou a frase mais hilária da noite: “Grande parte das mulheres me amam (sic)”. Errou no português e nos números. De acordo com o último Datafolha, a rejeição do presidente no eleitorado feminino bate 54%.

Até meados do segundo bloco, Bolsonaro, que até então parecia espantosamente equilibrado, perdeu as estribeiras. Partiu pra cima da jornalista Vera Magalhães, que acabara de dirigir uma pergunta a Ciro Gomes com comentários do presidente, e disparou falsas acusações contra Simone. Em uma só tacada, jogou fora o treino que ele diz que não faz, mesmo com toda a papelada de perguntas e sugestões de respostas espalhadas na sua bancada. Expôs, sem edição, sua natureza misógina, sua ojeriza às mulheres, à imprensa e ao contraditório.

A agressão à jornalista acordou Soraya Thronicke, até então navegando entre a leitura e o decoreba. Ela virou Juma – ou melhor, onça – e se lançou ao ataque, definindo Bolsonaro como “Tchutchuca com os homens e tigrão com mulheres”.

As perguntas se afunilaram para políticas públicas direcionadas às mulheres. Chegaram a provocar um bate-boca entre Ciro Gomes e Bolsonaro, um acusando o outro e ambos se desculpando por frases infelizes. Bolsonaro por dizer que sua filha mulher era produto de uma “fraquejada” e Ciro pela pisada na bola, há mais de 20 anos, sobre sua ex-mulher Patrícia Pillar, cuja “única função” teria sido dormir com ele.

As estocadas de Soraya, uma ou outra de Felipe d’Ávila, as críticas consistentes e os recados de Ciro e Simone, ambos muito mais articulados do que os demais, fizeram o debate valer a pena. Ainda que a emedebista e o pedetista tenham se saído muito bem, as intenções de voto dificilmente vão se alterar.

Depois de apanharem das mulheres nessa primeira rodada, o mais provável é que nem Bolsonaro nem Lula terão coragem de participar de outros debates.

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