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Economizando na manutenção (por Eduardo Fernandez Silva)

A tragédia – prevista! – que abate os gaúchos no momento é, infelizmente, apenas mais uma

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Terra seca, geleiras derretendo e indústria
1 de 1 Terra seca, geleiras derretendo e indústria - Foto: null

Neste momento em que os gaúchos passam por sofrimento ímpar em razão de evento climático extremo, sendo eles as vítimas da vez de um problema causado pelo estilo de vida dos ricos do planeta, vale uma analogia em homenagem a todos os que sofrem.

Era uma vez um empresário que a cada dia se tornava mais rico, riquíssimo. Seu “segredo” era economizar na manutenção: os pneus dos seus ônibus eram reformados, não substituídos; amadores concertavam as máquinas da sua oficina, assim como seus aviões, sem seguir recomendações técnicas. Em razão disso, números cada vez maiores de seus colaboradores e clientes empobreciam e despencavam junto com ônibus e aviões! Na sede da empresa só o elevador exclusivo da diretoria tinha manutenção, mas também este despencou em razão da precária conservação do prédio. Políticos elogiavam tal empresário, solicitavam a ele recursos para suas campanhas e atribuíam os “acidentes” ao acaso. A bolsa de valores, focada no trimestre e cega a prazos mais longos, valorizava a empresa e elogiava os diretores. E assim seguiam todos, ou melhor, alguns, pois muitos ficavam pelo caminho…

Parece evidente a analogia entre tal empresa e o mundo atual. Sabemos todos que, por falta dos devidos cuidados – a manutenção adequada da biosfera, base da vida! – a água está a desaparecer, o clima e os mares a aquecer, os animais a desaparecerem, assim como as florestas e as árvores. Os solos, empobrecidos, carecem de fertilizantes e agrotóxicos que acabam nas fozes dos rios, matando a fauna e flora marinha; os plásticos, tão práticos, inserem-se na corrente sanguínea de todos os animais, desde fetos. No conjunto, toda essa “ausência de manutenção” equivale a comprometer a vida futura.

Tudo isso para enriquecer alguns, enquanto a maioria padece e vive sob riscos crescentes. A ideia, repetida vezes sem conta, de que os últimos dois séculos foram fantásticos porque reduziram enormemente a pobreza, só se sustenta quando a definição desta é tão baixa – US$2,00/dia! – a ponto de ser risível, não fosse trágica! Eleve-se o sarrafo a apenas US$10,00/dia e quase 80% da humanidade fica abaixo da linha!

A analogia entre a falta de manutenção numa empresa – de ônibus, de aviação ou de qualquer ramo – e os consequentes desastres daí decorrentes ilustra bem o que tem acontecido com o planeta. Pela clareza, ela talvez ajude a motivar as profundas alterações nas práticas econômicas e políticas, necessárias para restaurar as chances de nossos filhos e netos terem vidas melhores.

A tragédia – prevista! – que abate os gaúchos no momento é, infelizmente, apenas mais uma de um número crescente e cada vez mais caro, em termos de vidas, sofrimento e recursos perdidos. Nos quatro cantos do planeta, manter as práticas que são as causas dessas tragédias leva a resultados como esses. Há que descartar tal estilo de vida de forma a restaurar a capacidade do sistema terra de produzir os itens essenciais à vida, minimizando os fatores que levam a esses eventos extremos!

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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