Economia e Covid (por Ricardo Guedes)
Os países que não tomaram providências ou apostaram na imunidade de rebanho, tiveram maior queda do PIB
atualizado
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Os dados são muito claros. Em 2020, todos os países que tomaram medidas restritivas em relação ao Covid, como lockdown, distanciamento social, máscaras e álcool em gel, tiveram melhor desempenho econômico com menor queda do PIB. Os países que não tomaram providências ou apostaram na imunidade de rebanho, tiveram maior queda do PIB. Em 2021, os países que investiram em vacina em larga escala para a população apresentam melhor recuperação econômica, e os países que não se programaram para a vacinação em massa apresentam menor recuperação.
A lógica é a seguinte. Quando uma sociedade ou um grupo social se organiza previamente com lockdown e medidas restritivas, com subsídios do Estado à população dentro de limites definidos, os agentes econômicos têm, então, a possibilidade de programação de suas ações racionais na poupança e alocação de capital, coletivamente. A não programação de medidas preventivas desorganiza a economia, já que os agentes econômicos tendem a atuar em direções distintas, assim como a população.
Em três diferentes situações, a China, com fortes medidas restritivas e total de 3 óbitos por 1 milhão de habitantes, obteve crescimento econômico de 2,3% em 2020 em moeda nacional, e recuperação econômica de 18,3% no primeiro trimestre de 2021, com 393 doses de vacina aplicadas por mil habitantes. Os Estados Unidos, com políticas pouco restritivas com Trump e 1.822 óbitos por 1 milhão de habitantes, apresentou queda do PIB de 3,5% em 2020, e recuperação de 6,4% no primeiro trimestre de 2021, com 873 doses aplicadas por mil habitantes com Biden. O Brasil, com falta de atuação, estímulo a tratamentos ineficazes como a hidroxicloroquina, e 2.125 óbitos por 1 milhão de habitantes, apresentou queda do PIB de 4,1% em 2020, e recuperação de 1,7% no primeiro trimestre de 2021, com 303 doses aplicadas por mil habitantes.
A mesma lógica se aplica aos demais países. Em países escandinavos, por exemplo, com relativa uniformidade socioeconômica e cultural, a Suécia, que apostou incialmente na imunidade de rebanho para a continuidade da atividade econômica, apresenta 1.418 óbitos por 1 milhão de habitantes, enquanto Dinamarca e Noruega, com medidas mais restritivas, 432 e 143 óbitos respectivamente. Em 2020, o PIB destes países em moeda nacional caiu na Suécia em 6,8%, Dinamarca 6,5%, Noruega 6,3%. A Suécia somente coletou mais óbitos, sem vantagem comparativa na variação do PIB. O mesmo ocorre à Alemanha, com políticas restritivas, comparada à Itália, França e Espanha, surpreendidas que foram pela pandemia, sem ações definidas.
O Brasil, com 2,7% da população mundial, apresenta 12,9% dos óbitos mundiais por Covid. Estamos na 60ª posição mundial em relação à vacinação por mil habitantes. O PIB brasileiro caiu 4,1% em moeda nacional, 25,8% em dólares correntes com a desvalorização cambial, indo do 9º para o 12º lugar das economias mundiais.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus