É a vergonha, gente! (por Cristovam Buarque)
São muitas razões para não votar no Bolsonaro. Mas, de todas, a razão que parece fundamental “é a vergonha, gente!”.
atualizado
Compartilhar notícia
Quando se discutia qual tema justificaria o voto no candidato Bill Clinton, seu assessor e estrategista da campanha, James Carville ficou famoso por responder: “É a economia, idiota!”. Ele tinha razão. Este era o tema do momento para atrair os eleitores. Na nossa eleição, em 2022, há diversas razões para não se votar pela reeleição de Bolsonaro.
“A economia é uma delas, gente!”. Com uma inflação acima da meta, o o crescimento patinando, o desemprego elevado, não se vê perspectiva de um novo momento econômico para o país nos próximos anos, com a continuação do atual governo.
Pode ser também “a democracia, gente!”. O presidente jamais escondeu sua aversão ao regime democrático, seu respeito por ditadores e torturadores. Há meses vem anunciando que não reconhece as instituições e só acredita nas urnas se o resultado for a seu favor. A defesa da democracia é uma forte razão para não votar em Bolsonaro.
Ainda pode ser “a tragédia social, gente!”. Com 33 milhões de pessoas passando fome e quase 100 milhões com deficiência nutricional, a tragédia da educação se agravando, a pobreza se ampliando, seria um suicídio moral manter um presidente sem a menor empatia pelos pobres.
Também pode ser “o desencanto, gente!”, com um presidente sem liderança, nem competência para mobilizar a população. Podem ser também as “grosserias do presidente” contra mulheres, gays, índios, doentes. “A depredação da Amazônia, gente!” “É o genocídio, gente!” Seu negacionismo ao chamar a epidemia de “gripezinha”, desaconselhando a vacinação e tentando impedir seu uso, inclusive para crianças.
“São as armas, gente!” O crime antipatriótico de armar os brasileiros para que se assassinem, criando um clima de instabilidade que levaremos décadas para superar se ele não for reeleito. “É a corrupção, gente!”, no MEC, no MS, na Codevasf, nas compras no Exército. “É a blasfêmia, gente!” de se dizer cristão, como se Jesus fosse armamentista e de corromper pastores evangélicos com ouro.
Ou “É o futuro, gente!”, condenado pelo desprezo à ciência, tecnologia, meio ambiente.
São muitas razões para não votar neste presidente. Mas, de todas, a razão que parece fundamental “é a vergonha, gente!”. A vergonha que ele nos faz ao agredir pessoas, inclusive chefes de estado estrangeiros, grupos sociais, inclusive doentes com falta de ar por causa do covid, ao falar para embaixadores dizendo que nosso Brasil é uma republiqueta de banana. Vergonha dele ser a cara e o nome que representam o Brasil no mundo.
É possível que Bolsonaro fique na história como o pior presidente do Brasil, mas é certo que nenhum até hoje nos fez passar tanta vergonha no cenário mundial. Esta é a razão maior, no meio de tantas outras. “É a vergonha, gente!” Não dá para aguentar mais quatro anos com esta cara e este nome nos representando e falando por nós, no mundo.
Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador