Deus do Céu (por Tânia Fusco)
Pego atropelando processos e processados, o julgador de Lula escafedeu-se um tempo. Aos costumes, nos States.
atualizado
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Deus.
Sinceridade? Deu ruim.
Se estava previsto, não foi o combinado. A tal redenção depois da cruz não era esse frente e ré constante, num retorno sem fim. Ou era?
Se era, não fomos devidamente avisados. Ingênuos, talvez.
Veja bem. A Ciência já fez inteligência artificial, sequenciou genoma, tá pertinho e até de produzir gente em laboratório. Tipo robô de carne e osso – artificiais, claro. Há remédio e cura pra quase tudinho. Mas, nesta semana em São Paulo capital, uma cidade grande da porra, no maior e mais rico estado brasileiro, um polícia algemou um homem à sua moto e saiu arrastando rua afora. Igualzinho cena de filme sobre os tempos da escravidão, quando cativos eram arrastados, puxados a ferro para castigo e execração pública. Era pra lascar mesmo. E lascava.
O arrastado em exposição ostensiva de agora também era preto e pobre – espécie de cativo que só é livre nas estatísticas que distinguem população “livre” da encarcerada, a que puxa cadeia mesmo.
Pobre e preto no Brasil soma duas desgraças e está sujeito a tudo. E é tudo mesmo. Do jeito que Você, que teve o filho crucificado, aí de cima, tá sabendo.
Nós, aqui embaixo, de tempos em tempos, ainda achamos que a coisa vai melhorar. Melhora nada. Respeito e igualdade conquistadas dura pouco no Brasil. Por quê? Por quê?
Sabe aquela piada que Você fez tudo beleza no Brasil. Mas, quando indagado se não havia exagero em tanto privilégio, mandou essa: Calma. Espere só pra ver o povinho que vou colocar lá.
Pois então. Esse povinho, por baixo, é perto de 1/3 da população. Gente ruim mesmo, cuja ruindade passa de geração em geração.
Ficam na encolha quando a coisa caminha pra melhora. Mas, há séculos, estão ali, de capitão do mato, capiroto, dentes trancados, alma armada pro próximo bote. Quando reaparecem vêm babando à cata dos eternos objetos do seu ódio: avanços sociais, políticos, de comportamento, pobre, preto, mulheres, índios, LGBTQI+. Sem esquecer, claro, portadores de alguma deficiência física ou mental, imigrantes e migrantes de origem pobre.
Você aí, todo celestial, sabe muito bem que nesse povinho não tem só rico, não. Ao contrário, a maioria tá ali estacionada na classe média. Os com um pouco mais de grana se acham ricos. São os piores. Mas no balaio do povinho tem muito pobre odiando pobre.
No Governo de agora tem até um preto que odeia preto, um artista que odeia Cultura, e etc.. Todos reunidos em torno de quem Você sabe muito quem é. Não vou dar nome porque esse tá na vibe de mandar prender aqueles que o chamam do que pensa não ser. Embora seja.
Esse povinho aí, independente do sexo, se acha aquilo que até o século passado era chamado de macho. A nominação mudou para babaca. Mas, como disse anteriormente, eles, os ruins-malvados, hibernam nas fases boas e ressurgem quando há trevas. Daí, no processo de evolução humana e social, estão sempre séculos e séculos atrasados. Ou seja, negacionista, a variante macho-alfa é muito resistente às vacinas contra raiva e obscurantismo. Falta-lhes, digamos, até vocabulário, entende?
Mas, enfim, o polícia que arrastava o preto, dito traficante, encontrou apoio na rua e compreensão da Justiça. Contaram as mídias, Júlia Martinez Alonso de Almeida Alvim, magistrada do Tribunal de Justiça de São Paulo, na audiência de custódia, sem mais, converteu a prisão em flagrante em preventiva. Não viu ilegalidade em amarrar e puxar um ser humano, como se bicho fera fosse. A Justiça anda assim.
Então… Precisaríamos de outra Bíblia para recontar – e justificar – o que Você deve estar enxergando muito bem. A em vigor vem sendo usada e abusada em dezenas de emissoras de TV, dia e noite. Também em milhares de Igrejas com denominações que até Você duvida. Em nome do seu Filho, há mentiras, roubos e falsas curas. Sem punição.
Atuar terrivelmente em Seu nome também é credencial para chegar ao Supremo Tribunal Federal – o STF, guardião da Constituição em um Estado definido como laico.
Nem vou falar das florestas queimadas, de devastação, dos garimpos ilegais legalizados, das matanças, das chacinas. Fica pra outra carta.
Para não deixar barato, vamos juntos dar só uma passadinha pelo “causo” Lula. Ainda que não tenha sido encontrado qualquer recibinho assinado, qualquer dinheirinho do ex-presidente em Banco Offshore, Lula, condenado, ficou preso 580 dias. Pagou de ladrão. O julgador foi puxador de voto na eleição do governo que o fez ministro. Assim, bem deslavadamente.
Pego atropelando processos e processados, o julgador de Lula escafedeu-se um tempo. Aos costumes, nos States. Agora, embrulhadinho pra presente de trouxa, volta candidato a PR. Quer repetir performance do inominável atual PR, que em 2018 ajudou a eleger.
Sinceridade?
Há cruz demais e pouca redenção.
Tânia Fusco é jornalista