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Desagradável (por Mary Zaidan) 

Lula insulta a democracia ao dizer que ditadura de Maduro não é ditadura

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Imagem colorida mostra Nicolás Maduro acenando para apoiadores - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra Nicolás Maduro acenando para apoiadores - Metrópoles - Foto: Jesus Vargas/Getty Images

Não há mais o que fazer sobre a Venezuela. Nicolás Maduro roubou as eleições, não vai largar o osso e enfiou o Brasil em uma enrascada. Ainda assim, o presidente Lula diz que a ditadura não é ditadura; que a Venezuela “vive um regime desagradável, mas muito diferente de uma ditadura”. Muito desagradável para os 24 mortos e suas famílias, para os mais de 2,4 mil oposicionistas presos pelo regime depois das eleições. Desagradabilíssimo para eleitores que depositaram em peso seus votos nas urnas, que ganharam e não levaram, para os quase 8 milhões que fugiram do país.

Desde a madrugada do dia 29 de julho, quando o Conselho Nacional Eleitoral declarou Maduro eleito a partir de um percentual fictício, sem apresentar os obrigatórios boletins de votação, a diplomacia brasileira e de boa parte do mundo passou a exigir comprovação da vitória – as tais atas das urnas. Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, que estava em Caracas, chegou a se encontrar com Maduro, de quem teria ouvido que as atas seriam apresentadas “nos próximos dias”.

A enrolação era evidente, mas Lula e Amorim deram mais linha ao ditador. O Brasil se negou a subscrever uma moção da OEA que pedia auditagem internacional do pleito. Nessa altura, os Estados Unidos e a Europa rechaçaram os resultados, avançando no reconhecimento da vitória de Edmundo González a partir das atas de urna da oposição, atestadas pelo Carter Center, que acompanhou o pleito in loco, a convite do próprio Maduro.

Até aqui, Lula ainda combinava posições com os presidentes de esquerda da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Manuel López Obrador, para uma ação conjunta. Mas o trio também ruiu depois da ideia estapafúrdia de Amorim, endossada por Lula, de realizar novas eleições.

Amorim chegou a detalhar a proposta, que incluiria suspensão de sanções econômicas, libertação de presos políticos e garantia de observadores internacionais. Roteiro praticamente idêntico ao do Acordo de Barbados, assinado por Maduro com o aval dos Estados Unidos e do Brasil, que o ditador jogou no lixo, embora os americanos tenham cumprido a sua parte. Ou seja, a saída proposta pelo Brasil era de a carochinha contar mais uma história. Foi demais para o México e até para a Colômbia.

Lula, que na defesa de Maduro chegou a dizer que a Venezuela tinha democracia demais, e que logo após o imbróglio das eleições considerou que tudo tinha ocorrido dentro da normalidade, sugerindo que a oposição buscasse a Justiça, completamente dominada pelo ditador, voltou à carga na sexta-feira. Mais uma vez, perdeu a chance de ficar calado.

Na entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente – que já havia avançado uma casa ao não reconhecer o resultado – refluiu. Marotamente inverteu a ordem das coisas, dizendo que terminado o pleito a oposição teria cantado vitória antes de Maduro: “A oposição logo diz: eu ganhei. E Maduro logo diz: eu ganhei. Mas ninguém tem prova”. Ora, a oposição nem precisava provar, dado que isso seria obrigação dos órgão oficiais. Mas provou, com boletins de urna recolhidos por eleitores antes de a polícia do regime fechar o acesso aos locais de apuração. Mais: só quem perde eleições aponta uma invasão hacker da Macedônia do Norte como detonadora de um sistema eleitoral tido como seguríssimo. Uma história tão cabulosa e risível quanto a encarnação de Hugo Chávez em um passarinho que conversa com Maduro.

Lula insulta a democracia ao qualificar a Venezuela apenas como um regime desagradável, de “viés autoritário”. Além de mortos, feridos e presos, para os quais Maduro promete construir mais presídios de segurança máxima, o país vizinho não tem imprensa livre há anos, o Legislativo e os tribunais de Justiça são puxadinhos do governo, a milícia (exército popular a serviço de Maduro) constrange e mata opositores. O que para Lula seria uma ditadura? Ganha a medalha do mérito chavista quem souber responder.

Enquanto isso, aboletado para sempre no Palácio de Miraflores, o ditador deve estar se divertindo quando ouve falar de atas eleitorais; gargalhando com os apertos do amigo, para quem receitou chá de de camomila depois de Lula se dizer assustado com a ameaça de “banho de sangue” feita pelo ditador caso perdesse as eleições. Maduro diz ter vencido mas, para não deixar dúvidas, executou o prometido banho de sangue. Mas isso é só desagradável.

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