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Debate sobre a desigualdade é essencial ao país

A concentração de renda continua estarrecedora. Os 10% mais ricos acumulam 48,6% do PIB, ante 2,1% dos 10% mais pobres

atualizado

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Pobreza DF
1 de 1 Pobreza DF - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Editorial de O Globo (1/11/2021)

A desigualdade é um dos temas mais relevantes na sociedade brasileira. Mereceria um debate profundo nas eleições de 2022. O Brasil jamais soube lidar a contento com a injustiça histórica com os mais pobres. No mundo, estamos entre os exemplos mais infames. É certo que, em maior ou menor medida, todas as sociedades são desiguais. A igualdade absoluta é também uma injustiça, por não levar em conta o esforço e o mérito individual. Mas nosso grau de desigualdade envergonha a todos e emperra nosso desenvolvimento.

Num ambiente político dividido, a discussão acaba contaminada por preferências ideológicas. O PT, que ocupou a Presidência entre 2003 e 2016, nunca perde a oportunidade de se vangloriar do que vê como os avanços sociais desse período, embora haja pesquisas apontando na direção oposta. O governo Bolsonaro, com suas trapalhadas em série, manifesta apenas uma preocupação de fachada com o assunto ao tentar de todo modo turbinar seu programa social em ano eleitoral.

Um passo importante nessa discussão é entender se o Brasil evoluiu ou não no período anterior à pandemia. Só que o estudo do tema é espinhoso e desafia os próprios acadêmicos. Até hoje eles não se acertaram sobre a melhor medida da desigualdade. O último capítulo do debate é um levantamento divulgado na semana passada por pesquisadores do Insper, que tenta pôr fim à discussão sobre o que aconteceu desde o começo deste século.

O Banco Mundial mostra uma melhora na medida mais popular para avaliar a desigualdade, o índice de Gini, em que o número 1 corresponde ao máximo de disparidade e 0 quer dizer igualdade total. Pelos dados do banco, o Gini do Brasil era 0,58 em 2002 e foi para 0,53 em 2017. Esse resultado foi contestado, porém, por um estudo do World Wealth and Income Database (WID), liderado pelo economista Thomas Piketty. O WID mostrou não redução, mas aumento na concentração de renda entre 2000 e 2018.

A diferença na conclusão deriva do uso de dados distintos. O WID, assim como o Banco Mundial, usa a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas considera também dados do Imposto de Renda e das contas que dissecam o PIB. Isso permite medir de modo mais fidedigno a renda dos estratos mais ricos.

De todo modo, persistia a dúvida: o Brasil ficou mais ou menos desigual neste século? Os pesquisadores do Insper examinaram as fontes de dados usadas pelo WID, de Piketty, e deram um passo adiante, aprofundando a concatenação dos dados. Usando outro levantamento do IBGE com informações mais detalhadas, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), chegaram à conclusão de que houve queda inequívoca na desigualdade entre 2002 e 2017. Caso a disparidade tivesse se mantido estável, 8% da população brasileira (16 milhões de pessoas) não teriam escapado da pobreza.

Mesmo com esse avanço estimado pelo Insper, a concentração de renda continua estarrecedora. Pelo estudo, os 10% mais ricos acumulam 48,6% do PIB, ante 2,1% dos 10% mais pobres. É dever de todos os candidatos a presidente estudar o assunto e apresentar, mais que programas sociais eleitoreiros, soluções reais.

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