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De quando as guerras se tornam funcionais (por Ricardo Guedes)

A população Palestina de Gaza não controla ou elege o Hamas, e o governo Netanyahu vem enfrentando baixos índices de popularidade

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Mostafa Alkharouf/Anadolu via Getty Images
Soldados israelenses patrulham perto da fronteira de Gaza enquanto o confronto entre o exército israelense e as facções palestinas continua em Nir Oz, Israel, em 19 de outubro de 2023
1 de 1 Soldados israelenses patrulham perto da fronteira de Gaza enquanto o confronto entre o exército israelense e as facções palestinas continua em Nir Oz, Israel, em 19 de outubro de 2023 - Foto: Mostafa Alkharouf/Anadolu via Getty Images

Toda vez que um governante tem que escalonar sua ação belicosa externa para manter sua legitimidade interna, e o mesmo ocorrendo com o governante que lhe opõe, a guerra entre os dois países se torna inevitável. É quando, na Teoria dos Jogos, o somatório de atos racionais individuais leva a um resultado geral irracional.

Na Universidade de Chicago, tive a oportunidade, como aluno, de acompanhar um grupo de professores e estudantes sobre a Guerra das Malvinas em 1982 entre a Argentina e a Inglaterra. À época, Galtieri e Margareth Tatcher experimentavam avaliações negativas em seus países. Dois fatos simultâneos ocorreram. Por um lado, os Estados Unidos encontravam-se com dificuldades para a instalação de mísseis atômicos na Inglaterra, devido à opinião pública inglesa. Por outro lado, a Argentina poderia vir a participar em possível força de paz na Nicarágua, por checagem dos Estados Unidos, caso isso tivesse ocorrido, após a então suposta recusa do Brasil. Posições não muito claras e comunicações equivocadas levaram a Argentina a acreditar que a Inglaterra estaria aberta para as Malvinas se integrarem à Argentina. Não que este tenha sido o único, muito menos o principal motivo para a guerra, mas, como hipótese, teria funcionado como uma espécie de “gatilho”. A guerra então decorre, com o aumento da popularidade de Galtieri e Tatcher, e a instalação de mísseis atômicos na Inglaterra. A guerra torna-se funcional para os dois lados, até a perda da guerra pela Argentina e a queda de Galtieri.

A Guerra da Ucrânia, fora seus principais motivos, é um caso interessante de funcionalidade das guerras. Dados do Banco Mundial para 2021 a 2022, mostram que no primeiro ano da guerra o PIB mundial aumentou de US$ 97,3 trilhões para US$ 101,0 trilhões; o PIB da Ucrânia caiu em -20%; o da União Europeia em -3,5%; o dos Estados Unidos aumentou em +9%; e o da Rússia aumentou em +22%. Big business, com o aumento da popularidade dos governantes, que se autoperpetuam, cada uma dentro das regras de seus países.

O holocausto é o mais terrível episódio de nossa história contemporânea, junto com a bomba atômica em Hiroshima, ambos terríveis. Na guerra Hamas-Israel, a população Palestina de Gaza não controla ou elege o Hamas, e o governo Netanyahu vem enfrentando baixos índices de popularidade, não pela guerra, mas por supostas erros estratégicos. Quanto mais durar, mais funcional.

Por sinal, é significativa a fala de Erich Hartmann, piloto alemão na Segunda Guerra Mundial, de que “a guerra é o lugar onde os jovens, sem se conhecer e sem se odiar, se matam, pela decisão dos mais velhos, que se conhecem e se odeiam, sem se matar”.

Situação imponderável, mas trágica.

A guerra prolongada, o genocídio, e o extermínio, geraram ódios milenares. Vide Cartago.

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, CEO da Sensus, e Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro

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