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De golpe em golpe (por Tânia Fusco)

Sem anistia

atualizado

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Igo Estrela – Metrópoles
Ato contra a ditadura -- Metrópoles
1 de 1 Ato contra a ditadura -- Metrópoles - Foto: Igo Estrela – Metrópoles

Não é de hoje. Muito antes dos Kids Pretos, de agora, o Brasil padece com golpismo militar. Desde a proclamação da República – ela própria advinda de um golpe militar – de tempos em tempos, os golpes subvertem a ordem e atrapalham o progresso.

Sem pompa e grosso modo, começamos com outubro de 1889, o Marechal Manuel Teodoro da Fonseca mandou pra casa o primeiro ministro do império, Visconde de Ouro Preto.

Teodoro, que nem era republicano, primeiro golpista chefe, foi também nosso primeiro presidente da República.
Em novembro de 1891, Deodoro dissolveu o Congresso Nacional, decretou Estado de Sítio, suspendendo direitos civis, perseguiu a imprensa e opositores. Aos costumes, pretendeu ser ditador. Sem apoio da Marinha, precisou renunciar.

Em 1930, os generais Tasso Fragoso e Mena Barreto mandaram pra casa o presidente Washington Luís.

Em 10 de novembro de 1937, de novo, militares, comandados pelos generais Dutra e Góes Monteiro, cercaram o Congresso Nacional e deram a Getúlio Vargas a chave para o Estado Novo – ditadura que durou até 1945, quando o mesmo general Dutra mandou Getúlio pra rua.

Em seguida, dois milicos disputaram a eleição presidencial – o próprio general Dutra e o brigadeiro Eduardo Gomes, que perdeu a eleição, mas deixou no cenário nacional sua majestade o Brigadeiro.

Doce de leite condensado e chocolate, o Brigadeiro era vendido nas ruas pelas apoiadoras de Eduardo Gomes, pretendendo angariar fundos para sua campanha.

Em 1951, Getúlio voltou ao poder eleito para um governo que durou até 24 de agosto 1954, quando, com seu suicídio, barrou um golpe em andamento.
João Café Filho, vice decorativo de Getúlio, assumiu o governo. Nascido no Rio Grande do Norte, ex-goleiro, advogado sem diploma, governou de 1954 a 1955. Tentou golpear, foi golpeado.

O golpe, que não vingou, começou em 1º de novembro, com discurso de um coronel inexpressivo Bizarria Mamede, no Clube Militar – sempre um point golpista. Mamede sugeria que o presidente eleito, Juscelino Kubitschek, não fosse empossado porque venceu com maioria simples, supostamente era esquerdista, apoiado por comunistas e blablablabla. (Velho filme, né?)

O general Lott, ministro da Guerra, pediu autorização ao presidente Café Filho para punir o falastrão. Sem responder, Café Filho licenciou-se, alegando razões médicas. O presidente da Câmara, Carlos Luz, assumiu e tentou desautorizar Lott.

Legalista e também apoiado por militares legalistas – eles existem -, Lott mandou Carlos Luz pra casa, não permitiu a volta de Café Filho, deu posse a Nereu Ramos. Golpeando o golpe, Lott garantiu a posse de JK.

No governo JK houve duas tentativas de golpe – as revoltas de Jacareacanga, em fevereiro de 1956, no Pará, e depois, em 1959, a de Aragarças, em Goiás.
Nas duas micro tentativas de golpe, os revelados eram um grupo de suboficiais da aeronáutica. JK cumpriu seu mandato e passou a faixa para seu opositor Jânio Quadros.

Ditadores ou eleitos, os militares não costumam democraticamente passar a simbólica faixa presidencial a seus sucessores. Foi assim com Floriano Peixoto, em 1894, com Figueiredo, em 1985, e com Bolsonaro, em 2022. O primeiro não passou a faixa para Prudente de Morais, o segundo para José Sarney, o terceiro para Lula. Foram, digamos, birrentinhos.

Em 1964, de novo, militares voltaram a conspirar. Desta vez com sucesso, num golpe que, muitíssimo resumidamente, resultou numa ditadura de 21 anos e deixou a economia em frangalhos, maior desigualdade social, centenas de mortos, feridos, torturados, desaparecidos. (Quem não era nascido, esqueceu ou não soube, recomendo assistir ao filme Ainda estou aqui).

Sem anistia!

PS.: A jornada de trabalho 6×1 é item da escravidão moderna. Mais de 7 milhões de comerciários são submetidos a isso. É hora de mudar.

 

Tânia Fusco é jornalista 

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