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De como as guerras ocorrem (por Ricardo Guedes)

A Guerra da Ucrânia é uma sequência da Segunda Guerra Mundial

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Um instrutor ensina às pessoas a posição ajoelhada durante um exercício militar para civis realizado pelo Movimento dos Veteranos de Zakarpattia - Metrópoles
1 de 1 Um instrutor ensina às pessoas a posição ajoelhada durante um exercício militar para civis realizado pelo Movimento dos Veteranos de Zakarpattia - Metrópoles - Foto: SerhiiHudak/ Ukrinform/Future Publishing via Getty Images

Na Teoria dos Jogos, podemos classificar os jogos como “soma-zero”, quando necessariamente um ganha e o outro perde, ou empatam, como em um jogo de futebol; “soma +1”, onde o lucro de um somente ocorre com o lucro do outro, como o bom desempenho de um sistema de trânsito; e “soma -1”, onde os dois lados necessariamente perdem, como a aniquilação recíproca em uma guerra nuclear. Se um lado aumenta a aposta na intimidação do oponente tendo por base a crescente legitimidade interna em seu próprio grupo, e vice-versa, o resultado poderá ser do tipo “soma -1”, com perda para ambos os lados.

Em 1982, participando de grupo multidisciplinar sobre a Guerra das Malvinas na Universidade de Chicago, o grupo teceu como uma das hipóteses a de que a Inglaterra e a Argentina provavelmente afundariam um navio de cada lado, seguido de intervalo para negociação e possível sequência da guerra, o que ocorreu. Os Estados Unidos, à época, para obter a Argentina como força de paz na Nicarágua, e instalação de mísseis nucleares na Inglaterra, sinalizou equivocadamente as Malvinas para a Argentina com a suposta anuência da Inglaterra. Thatcher e Gualtieri, com baixos índices de popularidade, mas então crescentes devido às suas ações contra o oponente, levaram ao resultado irracional da guerra, com prejuízos para ambos os lados.

A Guerra da Ucrânia é uma sequência da Segunda Guerra Mundial. A Segunda Guerra foi vencida pela Rússia e pelo Estados Unidos, com a formação da OTAN em 1949 e o Pacto de Varsóvia em 1955. Com a dissolução da União Soviética em 1991, foi tacitamente acordado que a OTAN não se expandiria às Repúblicas Soviéticas. Com 16 países em 1991, a OTAN tem hoje 30 países. A Polônia passou a integrar a OTAN em 1999; a Lituânia, Estônia e Letônia em 2004. O ponto crítico é a instalação de misseis nucleares de curto alcance nas fronteiras da Rússia. Na reunião de Bucareste em 2008, formou-se a expectativa de que Georgia e Ucrânia viriam a integrar a OTAN. Em 2008 a Rússia invade a Georgia; em 2014 anexa a Criméia; em 2022 invade a Ucrânia. A Europa se compromete ao envio de armas à Ucrânia. A Finlândia e Suécia expressam a intenção de integrar a OTAN, seguida da ameaça Russa de retaliação militar. Os Estados Unidos e Europa restringem em 70% o acesso da Rússia ao SWIFT, e o congelamento de cerca de 50% de suas reservas cambiais. A Rússia entra em alerta nuclear. Os preços mundiais das commodities aumentam.

Em “A Espiral do Conflito”, Max Heirich diz que os conflitos se originam em divergências sócio- econômicas, que então se tornam políticas, com poucos atores decidindo ao final segundo suas avaliações e idiossincrasias. Biden e Putin dependem de sucesso para a sua popularidade. Esperemos que suas decisões não excedam os limites da racionalidade, gerando a irracionalidade do gatilho nuclear. Que prevaleça a razão e a negociação, dentro das possibilidades atuais.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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