Datafolha: ótimas notícias para o funcionalismo (Por Antonio Lavareda)
O que os números querem dizer sobre os funcionários públicos
atualizado
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1. Apesar de reportados com a preocupação explícita de alinhamento com o Editorial da 1ª. página, com o qual o jornal aderiu à campanha pela Reforma Administrativa, os números obtidos pela competente equipe do Instituto não deixam margem a dúvidas: a maioria da população brasileira aprova o desempenho geral dos funcionários públicos (41% O/B, 40% Reg, apenas 18% de R/P). Quando digo “aprova” é porque o DataFolha nunca utiliza a medida dicotômica (aprovação x desaprovação), mas é IMPOSSÍVEL que uma parte expressiva desses que responderam “regular” não “aprovem” o desempenho do funcionalismo, num patamar certamente bem superior aos 50%.
2. Só para se ter uma ideia de como esses resultados são positivos para a categoria avaliada, o governo do presidente Lula na última avaliação do mesmo instituto obteve números bem inferiores: 36% O/B, 29% Regular, e 32% R/P. A avaliação negativa sendo como se vê quase duas vezes maior que a dos funcionários. O ex-presidente Bolsonaro também registrou no mesmo DataFolha no final do seu governo desempenho bem menos positivo que o obtido agora pelos servidores públicos: 39% O/B, 24% Reg, e 37% de Ruim/ Péssimo. Observe-se que algumas áreas do funcionalismo obtiveram notas ainda melhores, como os trabalhadores da educação, policiais civis e militares, e os do poder judiciário.
3. Quanto aos “achados” da pesquisa sobre atitudes e opiniões dos brasileiros quanto a uma eventual Reforma Administrativa, eles parecem predominantemente “benignos” para o funcionalismo. Entre os 71% que se dizem favoráveis à reforma, devem estar os 56% que defendem a estabilidade dos servidores para lhes garantir um bom trabalho. E ainda, na margem de erro da pesquisa, empatam os 50% contrários e os 48% favoráveis às promoções automáticas por tempo de serviço.
4. Por fim, duas perguntas não poderiam ter resultados diferentes. Indagados se eram favoráveis a demissões “por mau desempenho”, 80% se disseram obviamente favoráveis. Note-se que essa possibilidade já existe e há muito é praticada no serviço público. E questionados se os servidores deveriam ter seu trabalho avaliado constantemente e serem recompensados pelo seu desempenho, 90% concordaram. Nenhuma surpresa, não? Difícil ser contra essa formulação. Tudo visto, a conclusão correta é de que os defensores da Reforma devem usar todo seu estoque de argumentos para impulsioná-la, mas uma pretensa insatisfação da opinião pública com os serviços prestados pelo funcionalismo público nos três níveis definitivamente não se presta a esse fim.
Antonio Lavareda é cientista político e presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESP)