Crise na República (por Ricardo Guedes)
A baixa possibilidade de Bolsonaro se reeleger nas eleições de 2022
atualizado
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A crise política atual no Brasil tem três vertentes. A primeira, a tendencia autocrática de Bolsonaro para a quebra da ordem institucional. A segunda, a inoperância do Governo na gerência e solução dos problemas do país. A terceira, a baixa possibilidade de Bolsonaro se reeleger nas eleições de 2022.
Bolsonaro foi eleito em 2018 com uma plataforma moralista e liberal, ambas não entregues. Hoje, há indícios de possível corrupção no Governo, com a saída do então Ministro Ricardo Salles e a compra da vacina Covaxin, conforme noticiado pela imprensa e pela CPI da Covid no Senado.
Na economia, os resultados entregues são pífios. Após a promessa em campanha de até 8% de crescimento no primeiro ano, em 2019 o PIB cresceu 1%, caindo 24% em 2020 em dólares correntes, passando o Brasil da 9ª para a 12ª posição dentre as economias mundiais. O desemprego chega ao índice recorde de 14%. O Governo tem-se mostrado controverso e inoperante na gerência da sociedade, gerando problemas da política à ecologia a nível internacional, sem a solução dos problemas internos do país.
Eleito em 2018 com 32% no 1º turno e 39% no 2º turno do total do eleitorado, Bolsonaro conta hoje com o apoio de somente ¼ da população, longe dos 40% minimamente necessários para a disputa e 55% para a reeleição. Ter-se posicionado contra as medidas restritivas ao Covid, e a atual falta de vacinas para a população, geram problemas para o Governo.
Trump perdeu as eleições devido à sua equivocada política para o Covid. Como Bolsonaro, Trump subavaliou a pandemia como uma gripe, que somente aos mais fracos abateria. Bateu de frente com os Governadores contra as medidas restritivas em prol da economia. Apesar da economia americana estar próspera, Trump não foi reeleito após seu primeiro mandato, algo pouco comum na política americana.
No Brasil, o uso de políticas equivocadas como o tratamento precoce, com remédios ineficazes para o Covid como a hidroxicloroquina, não recomendada pelo FDA e pela Agencia Europeia, ou mesmo pela Anvisa no Brasil, juntamente com o atraso e falta de vacinas, levou a drástico número de óbitos. A imunidade de rebanho é um fato, quando controlada ou terminada uma pandemia, mas como estratégia inicial sem medidas restritivas e tratamento médico adequado, em prol da atividade econômica, é um erro crasso, levando à óbitos e à desorganização da economia. Com 2,7% da população mundial, temos hoje 12,9% dos óbitos totais por Covid.
Estamos hoje com 18.170.778 casos e 507.240 óbitos por Covid, em números crescentes. É pouco provável que exista alguém que não tenha um familiar, um amigo, um conhecido, ou conhecido de conhecido, que não tenha contraído ou falecido por Covid. É a dor que se segue, com a reavaliação das políticas adotadas.
Estratégia errada. Em normalidade democrática, o preço vem na conta eleitoral, na contínua crise política que se instala.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus