CPI exibe despreparo do governo (Por João Bosco Rabello)
Pazuello é mesmo um caso raro, até quando recorre a expedientes de fuga banais
atualizado
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Afora os erros de gestão e a negligência na condução da pandemia, evidenciados na CPI, salta aos olhos um aspecto complementar de governos radicais, de caráter excludente, que é o despreparo político e administrativo de ocupantes do primeiro escalão, a confirmar a máxima de que devemos temer os que podem mais do que sabem.
Em geral, essas personagens agem nos cargos, aos quais não chegam por mérito, mas por subserviência, com a displicência própria dos que se orientam pela cartilha do “achismo”. Nomeados por devoção, se protegem nos protocolos e cerimoniais até que o inesperado os exponha de forma incontornável.
No caso presente, a dificuldade de expressão de alguns, como o ex-chanceler Ernesto Araújo, não reflete apenas a desvantagem de estar ali defendendo o indefensável, mas da insuficiência de discorrer em público sobre questões complexas antes só abordadas na intimidade de um governo fechado, onde a regra é tudo ser tratado longe das vistas.
Mesmo o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que por ser médico supõe-se minimamente preparado para a função, não consegue explicar a contradição entre sua pregação e a do presidente da República quanto à adoção de medidas preventivas contra Covid 19. São orientações distintas que equivalem a não ter nenhuma.
Seu antecessor, o general Eduardo Pazuello é um caso singular de despreparo já exibido no cargo e escancarado na decisão de valer-se de um habeas corpus para silenciar na CPI. Imunizou-se contra a verdade como a reconhecer que sua fala confirmará sua inépcia, entre outras desvirtudes.
Pazuello é mesmo um caso raro, até quando recorre a expedientes de fuga banais. Ao invés de um atestado médico, já que se disse sobre suspeita de Covid, preferiu um atestado de culpa ao obter o direito ao silêncio. O atestado médico adiaria seu depoimento, o de culpa garante sua presença muda.
O ex-secretário de Comunicação Social, Fábio Wajngarten, que por dever de ofício deveria prever a repercussão de entrevistas, não foi capaz de fazê-lo com a que ele mesmo concedeu à revista Veja, obrigando-se a desmentir o que está gravado. Lembra o caso de um incorrigível boêmio que negou até a morte ser a pessoa em uma fotografia ao lado da amante.
Mais curioso – e dramático para a bancada governista -, é que ao tempo em que os convocados a depor se empenham em desmentir as acusações de boicote às medidas preventivas e desprezo pelas vacinas, o presidente da República os desmoraliza em tempo real, promovendo aglomerações, xingando de “idiotas” os que cumprem a quarentena e ainda defendendo a cloroquina.
O que está previsto não autoriza ao governo expectativas otimistas. A secretária do ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, que sucederá a Pazuello na pauta da comissão, é aquela que no auge da crise por falta de oxigênio em Manaus, repreendeu as autoridades estaduais por não usarem cloroquina contra a pandemia. Não por acaso, ganhou a alcunha de “capitã cloroquina”.
A impossibilidade de defesa é que levou o presidente Bolsonaro ao ataque, antecipando e improvisando a agenda de campanha de 2022. E é nos palanques, especialmente de adversários, que facilita a CPI, desqualificando-a e liderando o boicote às medidas preventivas, além de ameaçar com uma inviável intervenção militar.