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Corpos na praça, metralhados  (por Mirian Guaraciaba)

Vila Isabel: bandidos fortemente armados aterrorizam cidadãos na Praça Barão de Drummond, domingo à noitinha

atualizado

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Polícia Militar do Rio de Janeiro - Metrópoles
1 de 1 Polícia Militar do Rio de Janeiro - Metrópoles - Foto: Reprodução/ PMERJ

“Vi ontem (domingo) dois homens serem executados diante de mim. Era o fim de um dia lindo. Desci à Praça Sete, onde moro, para tomar uma caipirinha e levar um yakisoba. De repente, duas motocicletas. Rajadas de metralhadoras. Dois caem na praça. O povo, cena apocalíptica, corre para todos os lados. Um menino pequeno, de cinco anos (suponho), chora desorientado. Corro com ele para a cozinha de um bar. Todos deitados no chão. Guerra que já dura pelo menos 20 anos. A mãe do menino surge desesperada. Descubro que o nome dele é Guilherme. Queremos que a Vila Isabel volte só a dar samba!” Relato do jornalista Claudio Renato, ex-TV Globo.

A bandidagem nada teme. Vai para o tudo, ou nada. Matar ou matar. Não há policia, justiça, poder estabelecido que impeça, ou restrinja, suas atividades. As rajadas de metralhadoras partiram de narcotraficantes, diz a PM, ligados ao Comando Vermelho, contra criminosos do Terceiro Comando Puro. Funciona assim a disputa entre facções. Entre siglas. Atingindo em cheio o cidadão comum. Triste, lamentável, insuportável pensar no avanço do crime em todo o País.

O atentado descarado, que matou cinco e não dois, teve pouca repercussão no noticiário de domingo ou segunda. Há em Brasília uma guerra que mobiliza a imprensa, entre Legislativo e Judiciário (torço pelos de toga) em torno do livre negócio das emendas parlamentares. Há nos Estados Unidos a convenção democrata lançando Kamala Harris à Presidência. Forte candidata. Torço por ela. Trump reage com fakenews e apelações via Inteligência Artificial (postou imagem falsa de Taylor Swuift o apoiando, ela é democrata de carteirinha).

No Rio, rolava apenas um forró. Os marginais, numa moto, metralharam criminosos e inocentes. O cenário é a icônica Praça Barão de Drummond, conhecida como praça Sete, Vila Isabel. Rio de Janeiro. Uma das pontas do Boulevard Vinte e Oito de Setembro, principal avenida do bairro. Nessa avenida, batizada em homenagem à data da assinatura da Lei do Ventre Livre, em 1871, há a calçada de pedras portuguesas desenhando partituras e instrumentos musicais.

Em 1929, no bairro boêmio, Noel Rosa, Braguinha, Henrique Brito e Alvinho integraram o “Bando dos Tangarás”, os primeiros a levar o ritmo de batucada e percussão para os discos. Em 1994, lá nasceu o Projeto Boemia. Noel Rosa e Vila Isabel se misturam. O grande poeta nasceu em 1910 e morreu muito cedo, vitima de tuberculose. Até hoje, quando se fala na Vila, se fala em Noel.

Noel fez história em 26 anos de vida. Vila Isabel é história desde o Império. Veja só: fundado em 3 de Janeiro de 1872, o bairro foi inspirado no urbanismo parisiense. Para lotear o bairro, o Barão de Drummond contratou o arquiteto Francisco Joaquim Béthencourt da Silva, discípulo de Grandjean de Montigny, arquiteto francês radicado no Brasil.

O Barão fundou ainda o Jardim Zoológico do Rio, no Alto da Boa Vista. E como ninguém é perfeito, e o crime parece ter fincado raízes desde o Império na cidade maravilhosa, foi o Barão, dono da Vila Isabel, quem instituiu aqui o jogo do bicho. Primeiro, para arrecadar fundos para o Zoológico. Depois … para enriquecer bandidos. Até hoje, como as milícias e facções, disputam territórios, matam, roubam, traficam. À luz do sol ou no finalzinho de um dia de domingo.

Fala Noel: Quem nasce lá na Vila, Nem sequer vacila, Ao abraçar o samba. Que faz dançar os galhos, Do arvoredo e faz a Lua, Nascer mais cedo.

Lá, em Vila Isabel, Quem é bacharel, Não tem medo de bamba, São Paulo dá café, Minas dá leite, E a Vila Isabel dá samba. (Feitiço da Vila)

 

Mirian Guaraciaba é jornalista 

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