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Contradições de uma humanidade sem rabo (por Felipe Sampaio)

A grande dúvida agora é quem veio primeiro, a queda do rabo ou a evolução?

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Bonecos de cera com representações do homo sapiens e neandertal - Metrópoles
1 de 1 Bonecos de cera com representações do homo sapiens e neandertal - Metrópoles - Foto: Reprodução/SoCientífica

É isso mesmo. Uma matéria recente da BBC revela que o ser humano só virou gente depois que perdeu a cauda! O homo sapiens é um macaco sem rabo. E quem comprova tal hipótese é a New York University. Nossa evolução acelerou quando nossa cauda sumiu.

Não quer dizer que, para diversos animais, o rabo não seja um instrumento importante de defesa no caso do jacaré, ou de equilíbrio para os gatos, ou mesmo de locomoção para alguns de nossos primos macacos.

Dá pra imaginar que a teoria da NYU faz todo sentido, quando comparamos nosso elevado desenvolvimento, por exemplo, com o das cobras (que são praticamente só cabeça e rabo), considerando que elas continuam rastejando após 170 milhões de anos.

Segundo a BBC, a grande dúvida agora é quem veio primeiro, a queda do rabo ou a evolução. Alguns discordantes acham que é possível só termos perdido o rabo depois que evoluímos.

A coisa fica mais confusa ainda quando se acrescenta ao debate a Teoria da Evolução de Darwin, segundo a qual os humanos seriam parentes próximos dos macacos. Ou seja, será que outros macacos como os chimpanzés, que hoje não têm mais rabo, já atingiram o auge de sua evolução acima dos demais primatas? Ou devemos temer alguma concorrência futura no estilo Planeta dos Macacos?

A tese da evolução decorrente da perda do rabo (há uns 25 milhões de anos) está relacionada, entre outras coisas, com a possibilidade de caminharmos com duas pernas, liberando as mãos para outros afazeres mais criativos e produtivos.

Sendo assim, não seria exagero imaginar que, se ainda ostentássemos frondosas caudas, não teríamos sido capazes de inventar maravilhas como o telescópio espacial James Webb e o acarajé. Visto de outro ângulo, não é absurdo supor que não haveria bomba atômica se Oppenheimer ou Einstein tivessem rabo.

Qualquer que seja a conclusão dessas pesquisas, já servem pelo menos para fazermos uma reflexão crucial. Ao perder o rabo, o ser humano teria perdido também seu senso de autopreservação? Estaria na cauda a nossa consciência de pertencimento à natureza?

Vale a pena observar que, sem o rabo, fomos capazes de inventar e produzir milhões de automóveis movidos a petróleo e agora substituí-los por outros tantos milhões movidos a baterias de lítio, sem sequer questionarmos para que (e a quem) servem tantos automóveis.

A falta do rabo também nos garantiu inteligência para criar o Estado e a democracia, sem que os utilizemos para eliminar a desigualdade social e a violência. Da mesma forma, sob a justificativa contraditória de protegermos a humanidade (de si própria) trocamos nossa cauda por um volume trilionário de armamentos e munições.

Outra recente curiosidade sobre a humanidade sem rabo é que nas eleições de Portugal, ocorridas esta semana, grande parte dos eleitores brasileiros com cidadania portuguesa votou na mesma extrema direita xenófoba que os agride esbravejando “porcos, saiam daqui e voltem para o Brasil”.

Tantas contradições levam a crer que ainda pode ter sobrado algum pedacinho de rabo em algumas pessoas.

 

Felipe Sampaio: chefiou a assessoria especial dos ministros da Defesa (2016-2017) e da Segurança Pública (2018); cofundador do Centro Soberania e Clima; foi secretário-executivo de segurança urbana do Recife (2019-2021); atual diretor do SINESP no ministério da Justiça.

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