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Construir o centro democrático (por Roberto Freire)

Quase 60% dos brasileiros querem uma terceira via entre Jair Bolsonaro e o atual presidente Lula

atualizado

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1 de 1 Montagem colorida com imagens de Lula e Bolsonaro datafolha filiação - Metrópoles - Foto: Reprodução

Há espaço no cenário político-eleitoral brasileiro para um centro democrático? Ou o país está fadado à polarização imobilizante entre uma esquerda identitária e anacrônica e uma extrema-direita profundamente autoritária e intolerante? E, pior, ambas populistas.

A mais recente pesquisa IPEC mostra que sim. Quase 60% dos brasileiros querem uma terceira via entre Jair Bolsonaro e o atual presidente Lula. A população espera que MDB, PSDB, Cidadania e Podemos continuem o projeto que teve início em 2022, com a candidatura de Simone Tebet (MDB) à Presidência da República.

O desafio é reunir essas e outras forças para ocupar esse espaço político. Exige coragem, humildade, desprendimento. Quem deseja liderar tem de conduzir, apontar caminhos, correr o risco de ousar.

E ousar não é colocar uma peruca loira, subir à tribuna da Câmara e proferir discurso de ódio travestido de defesa de valores. Mas oferecer alternativas e soluções reais para problemas reais do país.

Questões regionais não podem paralisar o debate sobre uma federação democrática, que reúna uma social-democracia renovada, verdes e liberais de todo o espectro político sob uma visão moderna do Estado, da economia e da sociedade.

Que tenha a democracia como valor universal, combata de verdade a nossa imoral desigualdade e dê à biodiversidade a centralidade que ela tem de ter no desenvolvimento nacional, tanto do ponto de vista social e econômico, quanto nos processos de inovação tecnológica.

Tal projeto depende da sobrevivência dessas forças políticas. Se não se juntarem, os quatro partidos podem ter isoladamente as melhores propostas para o país, mas elas jamais sairão do papel. A cláusula de desempenho nos impõe essa obrigação.

Juntos, PSDB e Cidadania têm atualmente 18 deputados federais – já foram 88 em 2006. O MDB que, sozinho, elegeu 89 deputados naquele ano hoje tem 42.

Ou nos unimos ou desaparecemos. Ou nos unimos ou o espaço para o centro democrático na arena política será ocupado pelo espetáculo e pelo grotesco. Ou nos unimos ou o Brasil sucumbirá à polarização.

E, aqui, não se trata de forçar uma falsa simetria. Uma ampla aliança democrática venceu – por pequena margem, é sempre bom lembrar – as eleições de 2022, mas não sepultou o extremismo.

Esse caminho tem de ser construído também dentro de nossos próprios partidos. E junto à sociedade, disputada por forças mais ou menos progressistas, mais ou menos democráticas.

Avançamos para um presidencialismo mais funcional e com menos partidos. Em razão da cláusula, mas não apenas. É por isso que até grandes como União Brasil e PP buscam uma fusão. E medianos, como PSB, PDT e Solidariedade estudam uma federação.

Não reúnem, contudo, as condições de oferecer o caminho que MDB, PSDB, Cidadania e Podemos podem construir juntos. Seja por terem uma visão mais estreita sobre liberdades individuais e costumes ou sobre democracia e livre mercado.

Que tenhamos a coragem e o espírito de liderança que o momento exige e o Brasil precisa.

 

Roberto Freire, ex-deputado e ex-senador, é presidente do Cidadania

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