Ciro em Lisboa: ataques e contrição no ocaso (por Vitor Hugo Soares)
Ciro Gomes voltou aos rapapés de costume
atualizado
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Nos moldes frequentes de exibicionismos e dos jogos de mando da política brasileira, a cidade de Miami, o paraíso turístico de compras, praias e diversões cinematográficas no estado da Flórida, EUA, parece ter perdido – ao menos temporariamente – o encanto preferencial dos homens públicos brasileiros quando submergem, em tempos adversos e de vacas magras, para conferir o baque nas contas e finanças (em alguns casos) ou atacar adversários.
Atualmente, o charme de púlpito e palanque de recados e ataques da vez se transferiu para a europeia e cativante Lisboa, capital de Portugal escolhida, semana passada, pelo ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), ex-ministro do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para sair da toca onde se enfiou depois da derrota fragorosa nas presidenciais do ano passado, e voltar a fustigar o antigo companheiro, atual dono do poder no Palácio do Planalto, após um bom período de silêncio.
Como de hábito nestes dias temerários, convidado para ministrar uma palestra na Universidade de Lisboa, Ciro voltou aos rapapés de costume. Desta vez, senão como o diabo gosta – seu modo mais comum em performances acadêmicas, políticas e pessoais – mas sem perder o tom de temperamento impulsivo e provocador, típico de seu estilo, mas que também tem lhe trazido severos revezes, principalmente eleitorais e pessoais. A certa altura, como quem não quer nada, querendo (saudades de Jô Soares), afirmou que a corrupção continua solta no governo, bancada pelo Orçamento Secreto, e exemplificou: “A Companhia do Vale do São Francisco (Codevasf) permanece destinando recursos para obras superfaturadas no Amap&a acute;, sem que o atual governo faça nada para coibir as irregularidades. As práticas que estão lá – segundo o ex-ministro de Lula – são as mesmas da Administração Jair Bolsonaro. A Codevasf está fazendo investimentos superfaturados no Amapá neste governo”, afirmou o político cearense na palestra universitária.
Presente e atento, o ágil e competente repórter Vicente Nunes, correspondente do Correio Braziliense em Portugal, cuidou de dimensionar, contextualizar e dar o devido tratamento de relevância política internacional ao fato político que acabara de presenciar. O resto é como dizia meu tio José Soares Sobrinho ( Zé de Loloia, de tino jornalístico nato e fonte de informação dos caminhoneiros de paus – de – araras, que atravessavam a localidade lotados de retirantes das estiagens), na cidade de Macururé, região do Polígono das Secas, no sertão baiano, às margens da rodovia Transnordestina: “Meu sobrinho, se uma notícia assim pega uma estrada boa, como essa, vai parar em São Paulo, no mínimo”. Na mosca!
Nos arremates da palestra, Ciro avançou mais nos ataques: “É certo isso? O Brasil não aprendeu nada com os seus erros. Caramba, Lula foi parar na cadeia. Será que não aprendemos nada?” interrogou. E disse mais, que o espaço não comporta, mas pode ser lido na internet. Antes do pequeno ato de contrição que fez no final, ao informar que optou por ficar em silêncio, depois das eleições, para se desintoxicar: “A partir de um certo limite tem de ter humildade. Eu não represento mais uma corrente de opinião. Sou um democrata visceral. Alguma coisa está errada comigo, não com o povo”, admitiu. Eita Ciro!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br