Chico Buarque, o nosso guri de 80 anos (por Chico Alencar)
Chico, nas lutas contra o rei, nas discussões com Deus, nos ensina que os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão.
atualizado
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CHICO BUARQUE, nosso guri de 80, nasceu quando era bem o momento dele rebentar. Sua história ilumina nossa História.
Com seu engenho e arte, o querido xará sempre falou coisas de amor, mesmo quando chamava a atenção para a romaria dos mutilados, a fantasia dos infelizes e o dia a dia das meretrizes.
Chico desafiou os ferros do suplício da ditadura e o cale-se (cálice amargo) da censura: apesar de você, vai passar!
O velho Francisco, artista brasileiro, na estrada há muitos – pai paulista (Serjão, com a História na mão!), avô pernambucano, bisavô mineiro, tataravô baiano, filho (com outras seis manas e manos) da centenária e eterna
Memélia, carioca como ele – aprendeu na escola da vida que amores serão sempre amáveis.
Chico, depois de tanta mentira, tanta força bruta, sem o desespero de esperar demais, continua nos convocando para o
tempo da delicadeza.
O craque, cabeça rolando no Maracanã, sabe que além das cortinas são palcos azuis, de infinitas cortinas com palcos atrás. E clama: luz, quero luz!
Chico, nas lutas contra o rei, nas discussões com Deus, nos ensina que os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão.
E seguimos, privilegiados por sermos da mesma geração, como seus admiradores e vigias, catando a poesia que entorna no chão.
Chico, com seu navio carregado de ideais (escorrendo feito grãos), sabe que o tempo de criança foi se arrastando, pó a pó. Mas não levou o sorriso, nem a imagem de São Francisco ou um bom disco de Noel: é divina, é comédia a vida do artista.
Chico persiste. Roda mundo, roda gigante, moinho, pião. É preciso navegar: tanto mar, tanto amar…
Evoé, guia das melhores caravanas – as que embaçam os olhos e a razão, rumo ao coração!
(Consta nos astros, nos búzios, nos autos, nos dogmas, tá lá no evangelho)
Gracias, hermano!
Chico Alencar, deputado federal pelo PSOL-RJ