Cercadinho dos embaixadores é diplomacia de coronel (Por Elio Gaspari)
Quando oficiais palacianos atropelam ministros, os resultados são desastrosos
atualizado
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O episódio do cercadinho dos embaixadores marcou o apogeu da diplomacia palaciana do coronel Mauro Cesar Cid, chefe dos ajudantes de ordens de Bolsonaro, e do almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos. Eles foram os diretores da cena do “brienfing” de segunda-feira.
O coronel foi o revisor do texto de pelo menos um dos discursos de Bolsonaro na Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Quando os oficiais palacianos atropelam ministros, os resultados são desastrosos.
No dia 30 de março de 1964, o general Assis Brasil, chefe da Casa Militar, garantiu ao presidente João Goulart que era boa ideia ele ir à reunião de sargentos no Automóvel Clube. Dois dias depois estava deposto.
No dia 27 de agosto de 1969, o presidente Costa e Silva perdeu a fala durante um despacho. O capitão médico do palácio recomendou-lhe repouso, e mais nada. Em suas memórias, o general Jayme Portella, chefe do gabinete militar, repetiu dez vezes que, segundo o capitão, o caso não era grave. No dia seguinte o marechal voltou a perder a fala. Quando a recuperou, perguntou ao capitão:
— Não é derrame?
— Não senhor, derrame não é.
Era uma isquemia, com efeitos semelhantes. Nela, a irrigação do cérebro é afetada por uma obstrução. Horas depois Costa e Silva emudeceu de vez. Morreu em dezembro.
Na manhã de 1º de abril de 1981, o presidente João Figueiredo recebeu a notícia de que na noite anterior explodira uma bomba no estacionamento do Riocentro, matando um sargento, e aliviou-se: “Até que enfim os comunistas fizeram uma bobagem”.
A bomba era do DOI, onde estavam lotados o sargento e o capitão que dirigia o carro.
(Transcrito de O Globo)