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Captagon – A “droga da guerra” (por Felipe Sampaio)

O Captagon, antes vendido apenas com receita médica, passou a ser conhecido como “cocaína dos pobres” e usado em guerras

atualizado

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Reprodução/Wikipedia
guerra civil síria
1 de 1 guerra civil síria - Foto: Reprodução/Wikipedia

Nos anos 1960, o medicamento Captagon começou a ser produzido para o tratamento da depressão, entre outros. Após a comprovação dos seus efeitos colaterais viciantes, o remédio (sintetizado a partir da anfetamina cloridrato de fenetilina) foi banido das redes de farmácias do Ocidente.

Contudo, notadamente no Oriente Médio e Golfo Pérsico consolidou-se uma teia de produção e distribuição que alcança a região de leste a oeste. As guerras constantes, que trazem em sua esteira a pobreza, o desemprego, a corrupção e a destruição dos segmentos produtivos formais.

Já faz mais de uma década que um levantamento realizado pelo UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime constatou que uma nova droga vinha conquistando rapidamente espaços no narco mercado internacional.

Segundo Le Monde Diplomatique Brasil (diplomatique.org.br), o negócio pode ter faturado algo em torno de 10 bilhões de dólares no último ano (maios ou menos R$50 bilhões). Para se ter ideia dos volumes comercializados, em 2021 na Malásia foram apreendidas mais de 100 milhões de comprimidos. A produção mundial total pode chegar a 250 milhões dessas pílulas.

Nesse cenário, os altos lucros para os traficantes e os baixos preços para os consumidores provocam a tempestade perfeita, envolvendo governantes  irresponsáveis, empreendedores ambiciosos e pessoas sem oportunidades.

O Captagon, antes vendido apenas com receita médica, passou a ser conhecido como “cocaína dos pobres” pela imprensa. Também é chamado de “cocaína dos terroristas” entre as comunidades de defesa, segurança pública e inteligência da Europa e Estados Unidos, onde se suspeita da participação de grupos como o Estado Islâmico e Hezbollah na produção e tráfico de Captagon.

Ficou conhecido também como “droga da guerra”, em função do seu largo consumo pelos combatentes de conflitos, notadamente no Oriente Médio (como inibidor do cansaço ou estimulante da coragem e do estado de alerta), conforme mostrado pela BBC no documentário A Droga da Guerra da Síria.

Em março de 2023 o governo americano, União Europeia e Inglaterra estabeleceram sanções a familiares do presidente sírio Bashar al-Assad, por exemplo, por suposto envolvimento no tráfico internacional de Captagon e na possível produção de 80 milhões de comprimidos em 2020 (o governo da Síria nega tal hipótese e destaca a dificuldade de conter o tráfico internacional no seu território por razões geográficas).

A expansão vertiginosa do mercado de Captagon naquela região (onde o tabu contra drogas ilícitas é maior do que no Ocidente) chama a atenção das autoridades europeias, americanas e asiáticas. É provável que os lucros atraiam traficantes desses continentes, quem sabe, provocando disputas violentas pelo controle de territórios e de modais de distribuição.

 

Felipe Sampaio: chefiou as assessorias dos ministros da Defesa e da Segurança Pública; foi secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife; cofundador do Centro Soberania e Clima; atual diretor do SINESP no Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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