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Capitalismo de atenção (por Paulo Delgado)

O cérebro é uma massa modelar empobrecida pelo uso da internet e danificada pela tela do celular e do computador

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Teera Konakan/Getty Images
Foto colorida. Emojis em frente a tela de celular
1 de 1 Foto colorida. Emojis em frente a tela de celular - Foto: Teera Konakan/Getty Images

A campanha eleitoral avança e o mal que a internet, redes sociais e aplicativos fazem a crianças e adolescentes não interessa a candidatos, e parece, nem a eleitores. A orgia digital produz imaturidade anatômica, funcional e ignorância hi-tech na geração atual.

O cérebro é uma massa modelar empobrecida pelo uso da internet e danificada pela tela do celular e do computador. A vida digital está em conexão direta com o abuso de idosos, abuso infantil, a pornografia, golpes financeiros, a ansiedade, depressão.

Não devia ser obrigatório que o celular se tornasse o centro da nossa vida, sob controle de terceiros. Pergunte a Interpol porque os crimes cibernéticos e o estelionato virtual estão se tornando a principal atividade econômica delinquencial de nosso tempo.

A sociedade homogênea nascida do consumo de tudo e da obcecada dependência das pessoas por Celular, Instagram, WhatsApp torna mais vulnerável três tipos de perfis humanos: os idosos, as crianças, os apressados.

Os bancos e o sistema financeiro ensinam a proteger sua conta pelo risco de prejuízo para eles. Enquanto, assentados na monomania dos juros altos legalizados pelo Banco Central, impede o crescimento econômico do país. Indicam orientação totalmente inumana para proteger a privacidade do dinheiro. A regra é fabricar labirintos alfanuméricos e aleatórios até chegar à biometria, a detecção do rosto como um ativo físico transferido aos outros para controle pessoal.

A lógica das senhas é assustadora. Nunca use datas ligadas ao coração ou ao afeto. Desconfie de tudo o tempo todo. Faça uma ferramenta, plataforma, um cofre nas nuvens. Quando você se esquecer que é humano, de carne, sangue, suor e osso, vá ao seu email secreto, recupere seu código de backup e se ainda existir um cartório de registro normal, imprima sua certidão de nascimento e tente relembrar quando sua vida era desconectada e feliz.

A tirania totalitária da internet se impôs como moda na linguagem. Cada vez mais se expressa emoção por emojis, ideogramas da preguiça afetiva e vocabular, sem se dar conta que a representação de sentimentos sem a necessidade da palavra, do verbo, nega a origem da humanidade.

A gramática dos guetos está se impondo, capturando pessoas para ser o que quiserem. Inclusive amorais, e justificarem suas escolhas e comportamentos egoístas protegidos por afinidades tecnológicas.

O impacto nocivo da tecnologia digital sobre a vida de crianças e adolescentes está destruindo na geração atual a aptidão para a liberdade. A genialidade hoje não é a inteligência, mas a extravagância. É hora de começar a tratar smartphone, tablets, televisão, celular, smartwatch, smarthglasses e os chips intracutâneos como da mesma natureza do álcool e da droga. Mesmo no absolutismo, o Código Penal francês (1791) previa como princípio “uma só morte por condenado”. Hoje se morre várias vezes, cotidianamente, por ansiedade, frustração, desrespeito, rixa, intriga, calúnia, difamação.

A vulnerabilidade de crianças e adolescentes não é somente socioeconômica, é especialmente, biológica, etária, psicológica.  O trabalho infantil não está mais concentrado, exclusivamente, na economia informal, na produção agrícola, nas atividades ilícitas. Crianças e adolescentes são hoje mão de obra gratuita da tecnologia digital. Não é mais, predominantemente, a pobreza na ponta e o analfabetismo na outra.

O capitalismo de atenção atrai incautos para o trabalho não remunerado. E seu local de exploração são os dedos e os olhos de crianças e adolescentes, inertes em sua imaturidade física e emocional, abandonados horas e horas a fio, hipnotizados. O inocente, o espontâneo, o educado, o grosseiro, todos viciados, enriquecendo o mundo dos aplicativos. Dominados pela tecnologia, essa ave de rapina, sem freio, que se faz de galinha de terreiro e cacareja como se todos os seus ovos fossem magníficos.

 

PAULO DELGADO, Sociólogo e Cientista Político foi constituinte de 1988. É consultor e conferencista.

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