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Caio e Sabrina Sato (por Tânia Fusco)

Ele é dos que sonham com infinitos. Só de coisas boas. Para sempre

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1 de 1 Foto colorida de Sabrina Sato - Metrópoles - Foto: @camaroten1/Instagram/Reprodução

Ele tinha o sonho de ver Sabrina Sato sambando. Só de biquini. “Porque ela é toda demais. Bonita demais. Simpática demais. Paulista demais. Perfeita demais”. Caio também sonhava assistir uma noite inteira de desfiles das Escolas de Samba. 

Na área das suas coisas muito boas da vida, além da belezura da Sabrina Sato, Caio gosta de ouvir e dançar funk e sertanejo. Em 2023, frequentou uma escola de dança e tomou gosto pelo “samba puladinho”. 

Somando os sonhos todos, deu Sambódromo na cabeça. Do Rio ou de São Paulo? Sabrina samba “de biquini” nos dois. Mas em São Paulo, celebra 20 anos como rainha da bateria da Gaviões da Fiel, que, como o próprio nome indica, é a Escola de Samba da torcida Fiel corintiana. (No Rio, Sabrina desfila na tradicional Vila Isabel). 

Caio tem 20 anos de vida e de corintianice. Já viu o Clube na alta, na baixa. Segue fiel. “Torcedor de verdade é assim. Apoia o clube em todas”. 

Fechou. Neste Carnaval, o destino de corintiano foi o sambódromo paulista, na noite de sábado 10/02/23. A Gaviões da Fiel foi a quarta escola a desfilar. Antes, passaram a tradicional Vai-Vai, a Tom Maior e a Mocidade Alegre. 

Depois da Gaviões, vieram Águia de Ouro, Império da Casa Verde e Acadêmicos do Tucuruvi, que, com o dia claro, fechou a segunda e última noite dos desfiles paulistas. 

Colado na grade que separa o público dos desfilantes, Caio acompanhou a Vai-Vai paralisado, perdido entre o deslumbramento e a timidez de chegar num mundo só de muitas e boas emoções. (Os sambódromos transbordam esses sentimentos). 

Com a Tom Maior Caio já aprendeu e cantou o refrão, soltou os braços, amoleceu a cintura. Antes que a Gaviões ocupasse a avenida, um mar de bandeiras da escola tomou o sambódromo inteiro. Caio, bandeira na mão, caiu no samba. Do começo ao fim do desfile. E assim foi também nos que vieram depois. 

Com uma diferença. Nenhum dos outros desfiles teve o instante mágico da passagem de Sabrina Sato, abrindo alas para a bateria da Gaviões. Os olhos de Caio viram esse instante em câmera lenta. Sem timidez: Sabrina Sato eu te amo! 

Sabrina, a “linda demais”, sorria pra todos. Caio teve certeza que sorrisos, samba no pé, volteios e todas aquelas plumas eram só pra ele. 

Ali, naquele micro instante de passagem pela frente de Caio, Sabrina retribuía todo o encantado afeto por ela. 

Valeu! Confirmou o sorriso largo e os braços abertos endereçados às parceiras de aventura – a avó, duas jovens primas, passageiras no bonde do Caio ao sambódromo paulista, pra ver a Sabrina Sato e sua belezura. Além do tudo e todas mais contidas no fantástico universo do Carnaval das Escolas de Samba. 

Caio meio que precisou atravessar um oceano a nado, macetar um apocalipse de dissidências e idiossincrasias para chegar ali, naquele sambódromo, naquela noite, naquele desfile, naquela Sabrina. 

Adulto, Caio, que tem Síndrome de Down, vem matando dois leões por dia pra vencer conceitos e preconceitos sobre a vida e o viver de deficientes e suas deficiências. É difícil afirmar a autonomia dos desejos quando não se tem autonomia sobre a própria vida. 

O caminho para a tal da “vida normal” dos PcD – Pessoas com Deficiência – ainda é bem escorregadio. Caio aprendeu a saber disso. 

Como dá, toca o bondinho dos seus sonhos. Neste ano, depois da alegria do Carnaval-com-a-Sabrina, encara uma faculdade – num curso de graduação em produção de audiovisual. – Quem sabe ainda filmo a Gaviões e a Sabrina Sato, hein gente? Esperançou na saída do sambódromo. 

Neste carnaval, puxando por sonhos e esperanças, a Gaviões, homenageou desfile campeão da escola, de 1995. O verso “Vou te levar pra o infinito”, do samba enredo de agora, repetiu o da letra do samba “Coisa boa é para sempre”, daquele ano. 

Caio é dos que sonham com infinitos. Só de coisas boas. Para sempre. Na avenida do samba, quando passou a bateria da segunda escola, a Tom Maior, com a mão no peito, descobriu: Bate igual nosso coração. 

E é mesmo. Impossível não se emocionar com a passagem de uma bateria das nossas Escolas de Samba. São tão incríveis, que a pior ainda é muito boa. 

Se as Escolas de Samba de São Paulo são menores, menos ricas, menos atrevidas nas coreografias, os sambas e as baterias nada devem às cariocas. Mas isso já é outra história. 

Hoje, vale o bonde das emoções no primeiro Carnaval do Caio que, ao fim dos desfiles, exausto, proclamou: Eu ficaria mil dias aqui.

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