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Brasil é palco para novo ato da disputa China x EUA (Leonardo Barreto)

A China precisa abrir outros mercados e está de olho aqui

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Jorge William/G20
Chegada do presidente da China, Xi Jinping
1 de 1 Chegada do presidente da China, Xi Jinping - Foto: Jorge William/G20

Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo neste sábado (16), o presidente chinês Xi Jinping convidou o Brasil para navegar junto ao seu país “a vela cheia”, termo náutico que significa deixar todas as velas soltas e abertas, usando toda a força do vento. Há um forte significado estratégico nesta metáfora.

Como se sabe, a eleição de Donaldo Trump nos Estados Unidos lançou uma pesada sombra sobre o Rio de Janeiro, cidade que abriga a reunião de cúpula do G20 nesta semana. O motivo é a disposição do novo presidente em promover “uma tempestade” nas relações internacionais a partir da sua posse, criando tarifas de comércio, retirando suporte político e financeiro americano de organismos multilaterais e, principalmente, aumentando a pressão sobre a China.

Antecipando a virada política que ocorrerá a partir de 20 de janeiro de 2025, com a efetivação de Trump, os chineses já colocam em prática sua estratégia global: sinalizar que o país asiático é um parceiro mais previsível e seguro do que os EUA e, com isso, rivalizar com os americanos por influência.

O professor Liu Dongshu, da universidade de Hong Kong, disse em entrevista à CNN Internacional que “se os EUA se retirarem do sistema global, há espaço para alguém intervir e a China é um dos poucos países que tem alguma capacidade e alguma intenção de preencher essa lacuna”. Além disso, para compensar prováveis novas barreiras comerciais americanas contra seus produtos, a China precisa abrir outros mercados.

Antes de vir ao Brasil, Xi Jinping inaugurou o porto estratégico de Chancay, ao norte de Lima, no Peru. No seu discurso, o líder chinês fez uma forte defesa da globalização e criticou “o caminho trilhado que alguns países seguiram para perseguir o domínio e a hegemonia”. Em outro trecho, ele advogou uma reorganização das instituições de governança global que tenha como princípio “planejar juntos, construir juntos e beneficiar juntos” para garantir “a nova realidade do mapa económico mundial”.

Considerando que Trump deve trazer muitas ações unilaterais no seu “America First”, a mensagem de Xi Jinping mostra que, como provável bom leitor Sun Tzu, que escreveu “A Arte da Guerra”, há de se vencer primeiro a guerra no templo, tentando colocar a China do lado moralmente superior. Essas mensagens, se vierem acompanhadas de bilhões em investimento, possuem muito apelo.

O papel do Brasil nesse jogo se assemelha ao que desempenhou na Copa de 2014, ou seja, oferecer o estádio ou palco para que outros dois países protagonizem a partida decisiva do campeonato.

O discurso chinês está mais alinhado ao que Lula tem vocalizado. Mas não é possível esquecer que o Brasil está na zona de influência por excelência dos EUA, além do forte intercâmbio econômico, e que os valores democráticos do país são essencialmente ocidentais. Por mais que o convite de Xi Jinping para um passeio de barco a vela cheia seja atraente e simpático, o Brasil não tem peso para aceita-lo porque sabe que o oceano das relações internacionais é muito vasto e seu barco é muito pequeno.

 

Leonardo Barreto e doutor em Ciência Política (UnB) e sócio da consultoria Think Policy

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